Segurança Social financia vagas a quem não tem para onde ir. Pedida solução permanente.
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A Segurança Social colocou em lares 1259 idosos, que tinham alta clínica, mas continuavam a ocupar camas de hospital por não terem para onde ir, desde o início da pandemia e até meados de dezembro. Os internamentos sociais são um problema recorrente no Serviço Nacional de Saúde e a covid-19 agravou-o. Hospitais e IPSS aprovam a solução provisória, mas pedem respostas definitivas.
O mais recente acordo do Estado com o setor social para colocar idosos em lares foi assinado em novembro e prevê 475 novas vagas. Este acordo, a somar aos mecanismos tradicionais de apoio a lares, permitiu libertar 1259 camas em hospitais, até meados de dezembro, disse fonte oficial do ministério.
Desde novembro, as misericórdias encontraram vaga para mais de 100 pessoas, afirma Manuel Lemos, da União de Misericórdias. Nas IPSS, o processo está mais atrasado, mas Lino Maia, da CNIS, espera que acelere em breve.
Tempo de espera é menor
Vários hospitais contactados pelo JN salientaram que a Segurança Social tem feito um esforço acrescido para encontrar vagas em lares para quem não tem condições para voltar a casa nem retaguarda familiar. Em fevereiro, a Associação de Administradores Hospitalares somava 1551 pessoas nesta situação. Em meados de dezembro, os maiores hospitais do país reportavam duas mãos-cheias de casos.
No Porto, o São João tinha nove casos, três dos quais em vias de resolução. Desde novembro, saíram 44 pessoas; em outubro tinham sido ainda mais, disse fonte oficial. O problema dos internamentos sociais era mais agudo no Porto: mais de metade dos colocados em residências desde outubro vivia em hospitais do distrito, diz a Segurança Social. Em Vila Real, só quatro pessoas estavam à espera de vaga. Desde o início de dezembro foram colocadas seis. E Coimbra tinha zero internados sociais.
No Centro Hospitalar Lisboa Norte (Santa Maria), desde novembro e até meados de dezembro, tinham saído nove pessoas com o apoio da Segurança Social e da Misericórdia de Lisboa. Chegou a ter em espera só três pessoas, um número que depois voltou a subir.
No S. Francisco Xavier (Lisboa Ocidental), o número era ainda menor: sete aguardavam resposta da Segurança Social e duas da Santa Casa.
Ainda em torno da capital, o Amadora-Sintra tinha 13 casos. Nos últimos meses, disse fonte oficial, foram libertadas 36 camas. Já no Barreiro Montijo, onde os internamentos sociais costumavam representar 9% do total, havia 19 pessoas a aguardar alta efetiva, 14 das quais direcionadas para os cuidados continuados.
Solução definitiva
O acordo assinado em novembro é válido até junho de 2021 e, apesar de estar subentendido que será renovado, como admite Manuel Lemos, o setor social pede uma resposta definitiva para "um problema recorrente". Lino Maia já propôs a criação de residências específicas, anexas às IPSS. Aguarda resposta.
Alexandre Lourenço, da Associação de Administradores Hospitalares, reconhece um "grande esforço" da parte da Segurança Social. "Espero que se mantenha depois da pandemia".
Tome nota
Cem milhões de custo direto
Os cerca de 1500 internamentos sociais que, por norma, existem nos hospitais públicos têm um custo direto de 100 milhões de euros.
Dezenas de cirurgias ficam por fazer
Um idoso que já recuperou da doença que obrigou ao internamento, mas não tem para onde ir viver, continua a ocupar uma cama do hospital. Essa cama poderia servir para que dezenas de outras pessoas recuperassem de uma cirurgia. Nas contas da Associação de Administradores Hospitalares, um internamento social durante 90 dias implica a não realização de 20 cirurgias.
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Novo acordo com setor social
Em novembro, a Segurança Social acordou com o setor social 475 vagas, pagas a 1175 euros por pessoa. Ao valor, deduz-se 80% do rendimento do utente, se for aplicável; e admite-se cobrar uma parte à família.
Financiamento usual é menor
Nas tradicionais vagas da Segurança Social, a comparticipação aos lares é de 396,63 euros.
Hospitais pagam camas em lares
Vários hospitais têm acordos com instituições externas. O Amadora-Sintra contratualizou 30 camas externas, de retaguarda. O Centro Hospitalar de Lisboa Norte tinha, em meados de dezembro, nove utentes na mesma situação.
Mais de 50% dos colocados em residências desde outubro até meados de dezembro vivia em hospitais do distrito do Porto.