A investigação sobre autismo do médico e investigador Miguel Castelo-Branco foi distinguida, esta quarta-feira, com o Prémio Bial de Medicina Clínica no valor de 100 mil euros. Partindo do conceito neurodiversidade, o galardoado evidenciou ser necessário ter em conta marcas únicas no cérebro para se desenvolverem tratamentos personalizados e ajustados a cada pessoa com autismo.
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A obra "Os desafios da Neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de investigação no autismo" de Miguel Castelo-Branco foi a vencedora do Prémio Bial de Medicina Clínica 2022. O autor é coordenador científico do Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research (CIBIT/ICNAS) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
A Fundação Bial sublinhou que o trabalho premiado representa "uma visão de 15 anos de percurso na investigação básica e clínica na área do neurodesenvolvimento, em particular no autismo, influenciada pela história pessoal do autor, pai de um jovem com esta condição, com responsabilidades associativas e federativas", pode ler-se numa nota enviada às redações.
O prémio será entregue esta tarde, pelas 18 horas, na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e da Ordem dos Médicos. A cerimónia decorrerá na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Este prémio visa reconhecer uma obra médica dirigida à prática clínica, em que pelo menos um dos autores é médico nacional num país de expressão oficial portuguesa.
Segundo o júri, o trabalho premiado "reflete um percurso de vida dedicado à investigação, alicerçado na história pessoal do autor, que contribuiu substancialmente para a compreensão da dualidade saúde/doença, permitindo o desenvolvimento de tratamentos personalizados de forma a melhorar competências sociais e de regulação emocional no autismo".
A investigação procurou mostrar como, apesar das semelhanças entre indivíduos, o cérebro humano transporta marcas únicas que ditam manifestações biológicas e comportamentais muito diferentes, apontando para a necessidade de se desenvolverem tratamentos diferenciados e ajustados a cada pessoa. Foram realizados diversos ensaios clínicos, usando fármacos, mas também outras terapias, sobretudo interfaces homem-máquina e jogos imersivos, para tentar melhorar o reconhecimento de emoções, a regulação emocional e a ansiedade em pessoas com autismo.
Dois estudos recebem menções honrosas
O júri atribuiu ainda duas menções honrosas, no valor de 10 mil euros cada, a dois trabalhos sobre tumores cerebrais e hipertensão arterial na população moçambicana por demonstrarem "a importância da investigação científica para a evolução da medicina em particular e da sociedade em geral".
São estes "Brain Tumors 360º: from biological samples to precision medicine for patients", de Cláudia Faria, neurocirurgiã no Hospital de Santa Maria, investigadora no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e "Contribuição para o estudo da Hipertensão Arterial em Moçambique e na África subsaariana: Resultados de um combate de 25 anos", coordenado por Albertino Damasceno, cardiologista no Hospital Central de Maputo e professor catedrático jubilado da Universidade Eduardo Mondlane, reconhecido pela Ordem dos Médicos de Moçambique como o "pai da Cardiologia em Moçambique".
O primeiro estudo tem em vista o desenvolvimento de uma plataforma designada a Brain Tumor Target (BTTarget) que, numa visão 360.º, permite simular a doença oncológica e testar diferentes terapias para compreender melhor como se formam os tumores e melhorar o tratamento dos doentes. Foi, por isso, criado de um banco de tumores cerebrais com amostras de aproximadamente dois mil doentes no Biobanco do Instituto de Medicina Molecular, integrado no Centro Académico de Medicina de Lisboa.
Por seu turno, a pesquisa relativa à hipertensão arterial nas populações da África Subsaariana, em especial de Moçambique, mostrou que um em cada três adultos moçambicanos têm esta doença, concluindo que é responsável por uma anormalmente elevada mortalidade por acidentes cardiovasculares. Estas novas informações podem ajudar a definir medidas de prevenção e as terapêuticas mais adequadas para reduzir a morbilidade e mortalidade associadas à doença.