Françoise Hanoul, de 54 anos, é mãe de um jovem com autismo: Felix, de 20 anos, a quem gosta de chamar "Feliz". Um nome que faz jus à alegria e ao riso constantes do jovem perante pequenas coisas, como correr e saltar no campo, andar de trator, participar em trabalhos agrícolas e conviver.
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Preocupada com o futuro do filho, a dietista de nacionalidade belga comprou 3,4 hectares de terreno, com quatro casas devolutas e em ruína, em Badim, Monção, e convocou outros pais com filhos portadores de transtorno do espectro autista, paralisia cerebral e outras deficiências, algumas delas resultantes de doenças raras, para criarem a associação Aldeia Inclusiva.
E dar asas ao sonho de construir um centro em Badim, com espaços para atividades, oficinas, horta, animais e lar residencial, que garanta acolhimento aos seus descendentes com necessidades especiais. "Vamos ter uma residência com capacidade para 10 ou 12 e já temos 20 pedidos. É horrível. Se não for este centro, o que vai acontecer ao meu filho quando eu morrer?", questiona Françoise.
Juntaram-se ao projeto até agora uma dezena de famílias, entre as quais Flávia e Giuliano Benatti, pais de duas crianças com autismo, Carolina, com cinco anos, e Eduardo, com oito. E que, ainda sem conhecer a mãe do "Feliz", criaram durante a pandemia uma quinta pedagógica privada em Longos Vales, com animais, para entreter os filhos, a que deram nome de "Quinta dos Avós". Ali habitam mascotes, como o pónei Ananás, os porcos Vilma e Alex, a parelha de caprinos Lady e Antenor, e o filho Pelé. Além das galinhas, patos, pavões e coelhos.
O espaço tornou-se ponto de encontro e convívio para a comunidade, que atualmente aguarda que a Segurança Social conceda estatuto de IPSS à sua associação. Pediu também ajuda à Câmara e procura voluntários e outros apoios que auxiliem a que o projeto tome forma. "Vamos recorrer a fundos europeus para construir o lar, mas se alguém quiser ajudar podemos avançar antes", afirma Françoise Hanoul, explicando que "a ideia principal [do projeto] é a inclusão".
"Os jovens vão trabalhar na natureza, limpar, cortar flores, acolher pessoas que o visitem. Têm tanto para partilhar que para mim não faz sentido estarem isolados numa residência", diz a mãe, que se instalou em Monção, após encontrar uma escola pública em Tui (Galiza), com especial sensibilidade para casos de autismo e onde afirma que Felix teve progressos significativos.
Outras respostas
Andrea Alvarez, terapeuta, indica que a aldeia inclusiva pretende seguir os passos de dois projetos existentes em Portugal: Casa de Santa Isabel (Seia) e da Associação Sócio-Terapêutica de Almeida (Guarda).
Doenças muito raras
A associação de Monção tem como associadas Sónia Afonso, mãe de Simão, com sindrome de Floating-Harbor; Sílvia Domingues, mãe de Francisco, com anomalia do cromossoma 18 (caso único em Portugal).
Método Son-Rise
Outro associado é Jean-Marc Meinier. Em 2010 pediu voluntários para ajudar o filho autista, aplicando o método Son-Rise. Missão teve mais de 100 voluntários.