Produtividade afetada em profissões onde o teletrabalho não é possível. Aumento do número de contágios tinge setores já com falta de mão de obra.
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O aumento do número de casos de trabalhadores em isolamento, seja por infeção por covid-19 ou devido aos contactos de risco, está a deixar vários setores sem capacidade produtiva. A aviação, a construção civil e a indústria são algumas das áreas em que as dificuldades mais se sentem, ainda que por motivos diferentes. Há voos adiados, fábricas que fecharam e obras públicas atrasadas e paradas, porque quem as tinha de fazer está em casa isolado ou doente.
Os subsídios atribuídos pela Segurança Social devido a doença covid ou isolamento profilático nas três primeiras semanas de dezembro superam os apoios dados em novembro. Entre 1 e 21 de dezembro, foram aprovados 23,1 mil pedidos por doença covid, o que é quase o triplo dos 8,9 mil registados em novembro. Os subsídios por isolamento do próprio (14,9 mil) ou de um dependente (18,6 mil) também aumentaram, como noticiou esta semana o JN.
Quanto maior é a falta de mão de obra de um setor, maior é o impacto que os isolamentos têm na produção. Que o diga o setor da construção, onde a crise das matérias primas e a falta de trabalhadores já têm vindo a adiar os prazos de conclusão de empreitadas, agora agravados pelos isolamentos. Há mesmo várias obras paradas por falta de operários. Manuel Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), confirma, ao JN, esta realidade: "Nós já temos falta de 70 mil trabalhadores e o que está previsto é que este pico da pandemia, enquanto não atingirmos o máximo e descermos, nos torne ainda mais deficitários".
Em dezembro, a produtividade "foi afetada negativamente" devido aos isolamentos e o dirigente da AICCOPN regista que as empresas vivem na incerteza de não saberem quanto tempo é que vai demorar até ao número de casos voltar a descer. "Espero que pouco", desabafa. A falta de trabalhadores, também decorrente dos isolamentos, está a adiar várias obras públicas e são muitos os autarcas que justificam os atrasos com a pandemia. Em Guimarães, por exemplo, a Câmara colocou cartazes junto às obras a pedir "desculpa pelo incómodo causado", justificando "contratempos e constrangimentos" decorrentes da pandemia.
Quase 5% de cancelamentos
Na TAP, as baixas de tripulantes têm causado o adiamento de vários voos. Anteontem, segundo o site da ANA (responsável pela gestão dos aeroportos nacionais), estavam cancelados sete voos da TAP a partir de Lisboa (em direção a Paris, Lyon, Nice, Roma, Marselha, Londres e Toulouse) e um da Transavia para Amsterdão. Esta semana, a companhia informou que está a "ajustar a operação para fazer face a um pico de baixas de tripulantes, a maioria devido à covid". Ainda que os passageiros dos voos cancelados da TAP sejam acomodados noutros voos, a taxa de cancelamentos nas últimas semanas tem estado próxima dos 5%, segundo a ANA. O cenário não é exclusivo da TAP e afeta outras companhias, em solo nacional e internacional (ler "Lá Fora").
Na indústria, onde o teletrabalho é impossível e as linhas de montagem há muito foram organizadas para garantir o distanciamento social, os isolamentos estão a afetar a produção. Por exemplo, a fábrica de conservas Ramirez, em Matosinhos, decidiu fechar esta semana depois de, em meados de dezembro, ter sido detetado um surto com 13 casos.
Emprego
Construção lidera ofertas sem procura
A lista de ofertas de emprego que ninguém quer é longa e atingiu, em novembro, o número de 21 826, segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). A construção, com 2705 vagas disponíveis, é a que apresenta mais postos de trabalho por preencher, mais de metade na região de Lisboa e Vale do Tejo. Seguem-se os trabalhadores dos serviços pessoais e, depois, os da indústria extrativa, transformativa e transportes. Os condutores, vendedores e trabalhadores da metalurgia também são muito procurados, demonstram os dados do IEFP relativos a novembro.
Lá fora
Voos cancelados
O adiamento ou cancelamento de voos devido à covid-19 não é um exclusivo português. Lá fora, a situação é semelhante. Segundo o portal Flight Aware, que monitoriza todos os voos do mundo, ontem já estavam adiados ou cancelados mais de cinco mil voos. A maioria era dos Estados Unidos, que contabilizavam 1300 cancelamentos.
Isolamentos curtos
Como forma de diminuir o impacto causado pela covid-19, muitos países estão a reduzir o tempo de isolamento. Portugal vai passar de dez para sete dias no Continente, mas a Madeira e outros países, como os Estados Unidos, optaram pelo prazo de cinco dias.