O rugir do fogo chega antes do lume se deixar ver. Vasco e Helena, que escolheram regressar à terra para gozar a reforma, estão de guarda no alpendre da casa, em Avelar, no concelho de Oliveira do Hospital, que se debate há dois dias com um fogo que nasceu em Arganil. Brincam com os amigos Nuno e Cristiana, trocando "larachas" que escondem a apreensão.
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No alto da serra, que esconde Avelar como um tesouro verde de águas fartas, o fogo cresce amamentado pelo vento e faz peito a quem o teme, bem perto da vista, num aperto do coração. "Isto enerva, quando está aqui perto o barulho é ensurdecedor. Isto é uma coisa que nos amarfanha", diz Vasco Torres, nascido em Avelar e com uma vida corrida em Coimbra, até voltar à terra onde brotou. "À tarde, quando começámos a sentir o vento quente, com cheiro a fogo, vimos logo que o fogo vinha na nossa direção", acrescentou.
Nuno Ambrósio vive na zona de Lisboa e soube muito antes de sentir o cheiro do fumo no vento disso, que o fogo iria para Avelar. Às quatro da madrugada, o alarme soou. As câmaras de vigilância que tem numa casa que reconstruiu na aldeia de centenas de anos, assinalaram movimento. "Vi que eram os bombeiros e vim logo a correr para aqui", comentou. O dia emudece nos vales da serra do Açor, mas as vozes são de nervos. "Durante o dia, estiveram aqui oito carros de bombeiros, agora está só um. Se o fogo vem por aí a baixo, ninguém o pára, vai tudo à frente."