Ele é cantor. Ele foi estrela de programas televisivos. Ele é político. Ele é candidato à Presidência da República. Quem não conhece o Tino? Em Rans, no concelho de Penafiel, o ex-presidente da Junta, que esteve no poder oito anos e um dia, já tem as eleições ganhas, muito por causa do carinho que o povo tem por ele.
Corpo do artigo
Vitorino Francisco da Rocha e Silva, mais conhecido por Tino de Rans, tornou-se célebre em 1999, no congresso do PS, durante o Governo de António Guterres, a quem abraçou calorosamente, depois de um empolgado discurso. Aos socialistas arrancou gargalhadas e o país nunca mais o esqueceu.
O antigo autarca, calceteiro de profissão, oficializou a sua corrida a Belém com a entrega de 8 mil assinaturas, num cesto de vindimas, carregado aos ombros. E isso até pode ter surpreendido o país, mas não causou espanto nem à família, nem aos vizinhos, nem aos amigos. Os quais, na sua maioria, vão votar nele porque, acima de tudo, lhe reconhecem "uma grande determinação".
"A esperteza dele cedo se revelou", conta o irmão José Manuel. "Em miúdos a minha mãe marcava-nos tarefas, porque ficou viúva cedo e teve que nos criar a todos e por isso tínhamos de ajudar", explica. "Ele começou a arranjar forma de fazer os trabalhos sem se matar muito", revela, sem maldade.
"Por exemplo, nós tínhamos de ir a um campo, que ficava a um quilómetro e meio da nossa casa, buscar alimento para os animais. E os mais velhos carregavam os produtos à cabeça, ou como calhava... mas ele não. Ele esperava sempre que viesse uma boleia de um amigo para deitar o material para cima do carro ou do camião". José sorri e diz: "Ele viu sempre à frente, já nessa altura era um estratega", ri-se.
Mas as memórias não ficam por aí. Nem as revelações da sua precoce genialidade. Um outro episódio assalta José, quando o agora candidato tinha mais ou menos cinco anos. "Em criança o Tino era hábil a relatar jogos de futebol que ele mesmo inventava". O dom, conhecido entre os ranenses, fez com que um dia fosse convidado para, numa festa, apresentar o seu número. O miúdo, reguila, lá aceitou. Mas, antes de começar, descalço e vestido com umas jardineiras, disse que não diria nada. Não sem antes lhe porem umas "notitas na mão". "Já tinha noção que o trabalho tinha de ser pago", brinca.
O bichinho da política foi-lhe incutido por um outro irmão, já falecido. Contudo, a mãe já tinha sido alertada por uma professora: "Dona Gertrudes, você tem filhos que têm capacidade para serem primeiros--ministros!". "Ele a primeiro-ministro não se candidatou, mas candidatou-se a presidente da República", refere a mãe orgulhosa.
Lúcia Rocha, amiga e vice-presidente na Junta que Tino ganhou para o PS, testemunha a garra do socialista. "Ele é um rapaz voluntarioso, cheio de energia, com vontade de trabalhar e com vontade de mudança".
Quininha das Camisolas, assim é tratada Joaquina Teixeira, não queria muito falar. Mas acontece que o assunto era o filho da terra, por isso lá disse umas palavrinhas. "Ele é tão simples, tão simples...ele é aquilo que ele é", diz com franqueza. Nisto, Gracinda Silva, a amiga, aparece à porta e Quininha pergunta: "Você não foi catequista do Tino?", e Gracinda responde afirmativamente. "Olhe, era um maroto", começa por lembrar. "Só estava bem a meter-se debaixo dos bancos", e ambas explodem em riso. "Não gostava de estar preso na sala. Só queria fazer asneiras, mas não era mal-educado. Era só traquina!", diz a catequista com saudade.
"A gente até fica um bocado emocionada de o ver assim, de saber o que ele percorreu para chegar onde está", desabafa Quininha antes de regressar à cozinha.
Como diz o irmão José: "Ele vai dar cartas e depois vão-se contar os votos". Isso é certo. Isso é uma vitória em Rans.