João Ferreira, que era apontado como o sucessor de Jerónimo de Sousa, destacou a importância de Portugal defender a soberania e a produção nacionais. Criticando os "cantos de sereia das liberalizações e privatizações", o ex-eurodeputado e atual vereador em Lisboa descreveu as políticas da União Europeia (UE) como sendo "desastrosas", responsabilizando-as pelo facto de o país ter "passado a importar aquilo que podia produzir". Estendeu os reparos à moeda única, argumentando que esta satisfaz os interesses da Alemanha.
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"A produção nacional é necessária para defender a soberania e a soberania é necessária para defender a produção nacional", sustentou João Ferreira, numa intervenção centrada no impacto das políticas da UE no país. "Desconsiderar uma e outra significa comprometer o desenvolvimento do país, e é isto que acontece em Portugal desde há várias décadas", afirmou.
"Portugal não é um país pobre, é um país que foi empobrecido e que está hoje profundamente condicionado no seu desenvolvimento", prosseguiu o antigo candidato à presidência da República, procurando realçar a relação entre a dependência económica nacional e a natureza da UE.
Para João Ferreira, Portugal está hoje "submetido aos ditames da União, em especial aos do euro". Este tornou o país "limitado na sua soberania e no direito a decidir livremente o seu futuro", o que levou à acumulação de défices estruturais, "com particular expressão no plano produtivo", analisou.
O comunista considerou que as políticas europeias como a Política Agrícola Comum (PAC) ou as regras do mercado único foram "desastrosas": "Passámos a importar aquilo que podíamos produzir", vincou, alegando que essa é, em larga medida, a explicação para que a economia nacional seja muito marcada pelos baixos salários e pelos produtos "de baixo valor acrescentado".
João Ferreira insistiu que as debilidades económicas do país são consequência da integração europeia: "Os cantos de sereia das liberalizações e privatizações rapidamente se transformaram no canto do cisne de importantes setores produtivos nacionais. Ganhou o capital monopolista, perderam os trabalhadores, o povo e o país", considerou.
Para o vereador da capital e membro do Comité Central do PCP, a permanência do euro prejudica a independência económica e impõe ao país uma política monetária, financeira, cambial e orçamental "desajustada". A subida das taxas de juro mostra, no seu entender, "os efeitos de uma política monetária imposta a partir da Alemanha".
João Ferreira também considerou que os fundos europeus são "uma parca compensação pelos impactos negativos da integração". Para o país começar a recuperar a sua soberania terá, antes de mais, de fixar o investimento público acima dos 5% do PIB, rematou.