Socialista recebe bancada parlamentar desenhada por Pedro Nuno Santos e tem o apoio ao candidato presidencial para definir. Militantes do PS elegem o novo secretário-geral entre esta sexta-feira e sábado.
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Os socialistas começam esta sexta-feira a votar para eleger José Luís Carneiro o novo secretário-geral do Partido Socialista, sucedendo a Pedro Nuno Santos, que deixou o partido como terceira força política nacional. Sem adversários e oposição interna, a escolha de Carneiro será natural, mas o tempo de unidade pode ser sol de pouca dura. O socialista vai rodear-se de figuras ligadas ao ex-líder e Eurico Brilhante Dias volta a conduzir a bancada parlamentar. O presidente do partido, Carlos César, declarou ontem o apoio ao candidato. A votação decorre até sábado.
Depois de perder as diretas para Pedro Nuno Santos no ano passado, José Luís Carneiro foi o primeiro e único militante do PS a chegar-se à frente para assumir a liderança, depois da hecatombe do partido nas últimas eleições de maio. O PS elegeu apenas 58 deputados e ficou atrás do Chega, culminando no segundo pior resultado da história do partido.
A voz parece ser agora de unidade e de apoio a Carneiro, mas os dissidentes continuam dentro do partido e a indecisão de apoiar António José Seguro nas presidenciais é o exemplo mais visível de rutura.
“É o sintoma mais claro e público da falta de unidade interna do partido. Temos alguém que foi secretário-geral e que está no lugar certo em relação aos outros nomes que se foi falando dentro do PS para tentar chegar a uma segunda volta e o PS não consegue apoiá-lo, não consegue decidir-se, não consegue apresentar alternativa. É um dos sinais mais claros da sua fraqueza”, vinca João Cardoso Rosas, professor de Filosofia Política na Universidade do Minho.
Ao JN, Carneiro finta a questão sobre as presidenciais e nota que a “prioridade está nas autárquicas”, numa altura em que Seguro já anunciou a sua candidatura a Belém e conta com o apoio de figuras de peso do partido, que também estão ao lado de Carneiro, como o eurodeputado Francisco Assis.
Paula Espírito Santo, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, refere que o principal desafio que o novo líder terá que enfrentar na construção de uma liderança renovada serão as “forças internas” que compõem o elenco parlamentar do PS. “Muitos desses deputados optaram por estar ao lado de Pedro Nuno Santos nas diretas do ano passado”, recorda.
Momento difícil para todos
José Luís Carneiro assume que o momento é “especialmente complexo e difícil para todos” e, por isso, já começou a trabalhar para garantir unidade. É exemplo a liderança da bancada parlamentar que vai ficar a cargo de Eurico Brilhantes Dias, depois de ter desempenhado essa função durante o último Governo de António Costa. A restante direção deverá ser reconduzida, mantendo-se nomes como Pedro Delgado Alves, que assumiu temporariamente as funções de interino, Mariana Vieira da Silva, António Mendonça Mendes ou Marina Gonçalves.
Ao mesmo tempo, Carneiro realça ao JN que as portas do partido estão abertas para Pedro Nuno Santos “se for essa a sua vontade” e afirma que o PS “está unido e mobilizado” no apoio à sua candidatura.
Questionado sobre a estratégia para recuperar eleitorado, o socialista diz que o trabalho assentará em “ouvir as pessoas” e “encontrar soluções para os seus problemas”. Realça que o próximo objetivo são as eleições autárquicas e coloca a carne toda no assador, apesar de o PS partir para esta corrida como o partido com mais autarcas. “[Queremos] mais votos para as freguesias, para as câmaras e assembleias municipais. Temos duas pessoas altamente qualificadas e com grande experiência política como candidatos ao Porto e a Lisboa. O PS é um grande partido e vai voltar a ser o farol dos portugueses”, afirma.
José Luís Carneiro vota este sábado na sede concelhia do PS em Baião, de onde é natural, por volta das 14 horas. A declaração sobre os resultados eleitorais está marcada para as 20.30 horas na sede nacional, no Largo do Rato.
Esquerda já só é Governo em quatro países da União Europeia
A crise do Partido Socialista em Portugal não é um caso isolado e espelha a queda abrupta dos Governos de centro-esquerda nos países da União Europeia (UE), onde já só existem quatro Estados-membros liderados à Esquerda. A maioria virou à Direita e as questões relacionadas com a imigração e o surgimento de movimentos políticos radicais são as principais razões apontadas para esta razia.
Nos 27 Estados-membros UE, apenas Espanha, Lituânia, Dinamarca e Malta têm Governos do centro-esquerda. A verdade é que os vizinhos espanhóis, com Pedro Sánchez, são o principal exemplo de governação à Esquerda numa Europa inclinada cada vez mais para a Direita. Na Eslováquia, Hungria e Itália a Governação está mesmo nas mãos de partidos da extrema-direita e da direita radical.
“As razões para esta crise da esquerda são múltiplas, mas a primeira de todas é a questão da imigração (...) que se combina com uma série de questões de caráter económico e social como os salários baixos e a crise da habitação”, menciona João Cardoso Rosas, da Universidade do Minho.