Há uma nova variante a merecer a atenção dos cientistas e das autoridades de saúde em vários países. A lambda, que é a dominante no Peru e tem semelhanças com a variante delta, pode não conseguir impor-se na Europa. Portugal tem dois casos registados.
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O relatório do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA) levantou, esta terça-feira, o pano àquilo que é a representação da variante lambda em Portugal. Em território nacional, foram registados dois casos desde abril deste ano. No Peru, onde foi registada pela primeira vez em agosto de 2020, estima-se que seja responsável por, pelo menos, 80% dos contágios.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a lambda como uma "variante de interesse", o que lançou ao repto aos especialistas para estudar e registar possíveis casos de infeção em todo o Mundo.
Para Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM), a lambda por ser tão parecida com a delta, igualmente contagiosa e semelhante na composição, poderá não conseguir impor-se noutros países, especialmente na Europa. "Não é muito provável que venhamos a ter uma variante que consiga ser mais transmissível e cause uma doença mais severa do que a variante delta", diz ao JN.
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A explicação é simples, porém não é uma conclusão "fechada" a sete chaves. Por ter aparecido primeiro no Peru, país da América do Sul, onde provavelmente a delta não estava tão disseminada, a lambda encontrou condições de propagação ideais naquele território. "Progressivamente é mais difícil às novas variantes imporem-se àquelas que já são dominantes, porque vêm de um processo adaptativo ao longo do último ano", esclarece.
A possível disseminação da lambda em Portugal pode não acontecer de forma tão clara como no caso da delta, que já representa 90% dos novos contágios. "Depende um pouco da dinâmica epidemiológica em cada país", avança o investigador.
Mas, isso não significa, que se deva fechar os olhos à potencialidade da nova variante. A lambda, tal como a delta, tem uma alteração na composição da proteína spike (que faz a ligação do vírus às células humanas). "Tudo o que se passa nessa zona da proteína deve merecer a nossa atenção", diz Miguel Castanho.
A "spike" representa quase uma "entrada" do vírus nas células humanas. Se a lambda está envolvida na alteração da proteína, os cientistas e as autoridades de saúde "devem estar atentos", avança o investigador. "Não, porque tenha um desfecho trágico em termos de doença, mas pode acontecer", acrescenta.
Estudos com resultados diferentes
A lambda já começou a fazer parte dos estudos de várias instituições em todo o Mundo e os resultados não são uniformes. Uma investigação da agência do governo britânico "Public Health England" adianta que a nova variante não parece provocar doença mais grave ou ser resistente às vacinas. Por outro lado, um estudo da Universidade do Chile, um dos países muito afetados pela recente estirpe, aponta que a lambda é mais infecciosa do que outras variantes e pode escapar aos anticorpos da vacinação.
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As conclusões diferenciadas não são estranhas para os especialistas. Miguel Castanho explica que se tratam de "ensaios prospetivos". "A variante lambda está muito circunscrita à escala regional. À escala global, ainda não há muita gente infetada. É natural que os estudos não sejam totalmente coincidentes, porque não seguem a mesma metodologia", conclui.