Troço de linha e estação de metro fechadas deixam capital entupida e lisboetas horas a desesperar por autocarros.
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Os ponteiros do relógio marcam a primeira hora de ponta do dia. Às 8 horas, já se perde de vista o fim das filas que se formam nas paragens de autocarro no Campo Grande, em Lisboa. Nas últimas semanas, com as obras no metro, Soraia Pacheco, 27 anos, não tem outra opção senão esperar pelo autocarro 778 da Carris para chegar ao trabalho.
"O metro de Telheiras está fechado. Por isso, só tenho o autocarro. Mas vem cheio, raramente se consegue entrar". A jovem tem notado mais atrasos nos horários e, por vezes, os autocarros nem sequer chegam a passar. "No outro dia, estive uma hora à espera para chegar a casa e o autocarro nem apareceu". Apesar dos constrangimentos, Soraia continua a pagar o passe Navegante municipal. "Não tenho outra solução para vir trabalhar, tem que ser".
Autocarros lotados
O cenário na cidade de Lisboa tem sido o "caos" desde que, no início de maio, arrancaram as obras de expansão do metro e foram encerradas a estação de Telheiras e o troço da Linha Amarela entre o Campo Grande e a Cidade Universitária. Muitos utilizadores viram-se sem alternativa de transporte e os autocarros seguem lotados.
Na azáfama da manhã de Cláudio Botelho, 45 anos, todos os minutos contam. "Nota-se que as pessoas estão mais ansiosas, como eu, porque não podemos chegar atrasados ao trabalho. Mas está a acontecer todos os dias", lamenta. Tal como muitos utilizadores do metro, durante os três meses em que a estação de Telheiras estiver encerrada, o autocarro terá de lhe servir. "Demoro mais tempo a chegar, claro, tudo acarreta consequências".
Do outro lado da estação de Campo Grande, rapidamente dezenas de pessoas se perfilam noutras duas paragens de autocarros. "Não faço ideia se vou conseguir entrar no primeiro autocarro que vier. Se for para irmos todos uns em cima dos outros, prefiro esperar pelo próximo", assegura Beatriz Caldeira.
A jovem de 23 anos costumava estar "em poucos minutos" no trabalho ao ir de metro. Agora, para tentar apanhar o autocarro 767 e garantir que chega pontualmente ao escritório, sai quase uma hora mais cedo de casa. "No dia em que tudo começou, demorei 40 minutos do Campo Grande às Telheiras de autocarro. Logicamente que as pessoas vão muito mais de carro". Com o aumento do trânsito e muitas estradas cortadas devido às obras, para Beatriz passar a andar de carro não é uma opção, apesar de sentir que a oferta dos autocarros não foi reforçada.
Fugir ao trânsito
O cenário é bem diferente a Norte, apesar das obras de expansão do metro. Nas estações de metro de Campanhã e da Trindade, no Porto, são muitas as pessoas que utilizam o título com assinatura mensal, o passe, para viajar diariamente. Poupar dinheiro é um dos principais motivos.
Ter mais conforto, poupar tempo, gastar menos dinheiro e evitar o trânsito são algumas das razões que levam as pessoas a andar de transportes públicos, no Porto. A maioria opta por comprar um passe mensal que, feitas as contas, acaba por compensar.
"O passe compensa se fizermos muitas viagens. A mim compensa, porque viajo todos os dias e várias vezes por dia", afirma Augusta Carvalho, enquanto toma um café na estação de metro de Campanha e faz uma pausa entre viagens.
Entre os comboios que acabam de chegar, vindos de várias zonas do distrito do Porto, são muitas as pessoas que atravessam a estação para chegar à linha de metro que as leva a diversos pontos da cidade do Porto. "Venho de Penafiel e uso o passe para as viagens de comboio até ao Porto. E, depois, para me deslocar dentro da cidade", conta Ana Nogueira. A jovem de 23 anos paga apenas 16 euros pelo título mensal metropolitano e reconhece que o valor é compensatório.
A viajar de transportes públicos por ter ficado sem carro, Rita Lima optou por fazer uma assinatura mensal, enquanto utiliza o metro e o autocarro como soluções temporárias. Rita assegura que é preferível comprar o passe a tirar o bilhete todos os dias. "O passe compensa, pois dá para viajar pelo Porto todo e em muitos transportes", afirma, satisfeita com a escolha. No entanto, e apesar de reconhecer que é uma solução mais rentável, continua a preferir andar de carro.
Carlos Vilar, acabado de chegar à estação de metro da Trindade, não se arrepende por ter aderido ao passe familiar. Com um custo de 80 euros mensais, todos os elementos do agregado familiar podem circular dentro da Área Metropolitana do Porto.
Com um bilhete na mão, Isabel Monteiro conta que, excecionalmente, não usa o passe, mas que tem sido a principal opção. "Estou a tentar conter as despesas e não vejo que o passe seja dispendioso: pago 30 euros e viajo de metro, autocarro e comboio, todos os dias".