Programa de apoio permitiu descer preços mensais, mas especialistas defendem que é preciso melhorar a oferta.
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A venda de passes no ano passado superou os recordes registados antes da pandemia nas duas grandes metrópoles de Lisboa e Porto e também em algumas comunidades intermunicipais (CIM), apesar de os transportes públicos ainda não terem alcançado o número de passageiros que tinham antes da covid-19. A ronda do JN pelas autoridades de transporte intermunicipais mostra que o Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes Públicos (PART), lançado há quatro anos, tornou o sistema mais apelativo ao financiar a descida dos preços dos passes, mas os especialistas dizem que é preciso investir na qualidade do sistema, para que mais pessoas ponham o carro de lado.
Em Lisboa, de acordo com os Transportes Metropolitanos de Lisboa, os passes Navegante passaram de 5,91 milhões em 2019 para 7,54 milhões de 2022. Em 2020 e em 2021, tinham descido para 5,17 milhões e 5,12 milhões, respetivamente.
Já os títulos ocasionais (bilhetes simples, comprados a bordo e combinado) sofreram uma redução significativa na capital. Em 2019, foram comprados 66,24 milhões. Em 2020, venderam-se 26,23 milhões, em 2021, cerca de 26,46 milhões e, em 2022, registaram-se 41,58 milhões de títulos ocasionais vendidos, perspetivando-se a transferência de clientes do bilhete ocasional para o passe.
No Porto, os Transportes Intermodais do Porto (TIP) adiantam que foram vendidos 2,62 milhões de passes (três zonas, municipal e metropolitano) em 2022, acima dos 2,37 milhões de 2019 (em 2020 e em 2021, a procura pelos títulos mensais desceu para 1,6 milhões e 1,74 milhões, respetivamente). A estes somam-se, desde 2020, os passes família, que têm vindo a registar adesão crescente: 10,7 mil vendidos em 2020, cerca de 24,51 mil em 2021 e 36,68 mil no ano passado.
Sistemas perto do limite
Quanto a bilhetes individuais, na Área Metropolitana do Porto, registaram-se 27,3 milhões de vendas em 2019, acima dos 22,62 milhões do ano passado (em 2020, foram vendidos 13,95 milhões e, em 2021, subiu para 16,6 milhões).
O administrador dos TIP, Manuel Paulo Teixeira, está convicto de que a redução de preços, potenciada pelo PART, levou a uma "mudança". "Percebemos que cada vez mais temos clientes frequentes, pessoas que perceberam que compensa terem as assinaturas e acabam por andar mais de transporte público, porque têm livre acesso à rede de transportes", avalia. No entanto, há outros fatores relevantes que contam na hora de "competir" com o transporte individual, como a simplificação tarifária, as infraestruturas de acolhimento enquanto se espera, a qualidade dos veículos e a forma como os passageiros são, depois, "entregues à cidade", salienta, ainda, Manuel Paulo Teixeira.
No "aspeto da inclusão social", o PART está a ter um "papel importante", crê José Manuel Viegas, professor emérito da Universidade de Lisboa e presidente da consultora de transportes TIS. Ainda assim, "cerca de 70% das deslocações nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto são feitas de automóvel", porque as pessoas nem sempre reconhecem ao transporte público a "qualidade" necessária. "É preciso que o preço seja apelativo, e nesse aspeto o PART fez o seu papel, mas, depois, é preciso assegurar que o serviço - percursos, horários e o seu cumprimento - seja bom", explica, salientando que alguns sistemas já estarão a operar "perto da capacidade máxima".
A "falta de qualidade" em alguns sistemas leva várias "pessoas a utilizar o veículo individual", quando poderiam encontrar resposta no público, salienta, também, Álvaro Costa, docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. A questão, agora, é "aumentar a capacidade do sistema", pelo que é preciso "ver onde as redes têm problemas e injetar oferta".
CIM fazem descontos e conquistam clientes
Novos títulos de transporte
A CIM do Tâmega e Sousa foi uma das autoridades de transporte que aproveitou o PART para criar novos títulos de transporte, a nível rodoviário e ferroviário, vendendo, no geral, mais passes, inclusive durante a covid. Também o Alto Alentejo criou novos passes e aplicou descontos aos existentes.
Novos aderentes
O Baixo Alentejo começou por aplicar descontos e, em junho de 2022, criou novos títulos de transporte com custo fixo, o que, na prática, permitiu reduções até 70% face aos custos anteriores. A adesão "tem vindo a ser crescente, sendo que, desde junho a dezembro de 2022, aderiram a este novo serviço 387 novos utilizadores".
Procura a crescer
Outras CIM, como a do Ave, Região de Leiria, Terras de Trás-os-Montes, Cávado, Coimbra, Viseu Dão Lafões e Alentejo Litoral, reduziram o valor de passes existentes. No Ave, o número de vendas com apoio PART passou de 8586 em 2019 para 93 461 em 2022. Em Leiria, o número de passes cresceu de 42 mil em 2019 para 73 mil no ano passado. Em Coimbra, subiu de 28 mil (2019) para 50 mil (2022).
Complemento ao passe de Lisboa
Na Lezíria do Tejo, foi criado o complemento ao passe metropolitano de Lisboa, pelo que, por "mais 50 cêntimos, os passageiros podem apanhar o comboio a partir de Azambuja". Nos restantes passes que já existiam, foram aplicados descontos que chegam aos 50%. O número de passes (excetuando os escolares) passou de 100 916 em 2019 para 116 948 em 2022.
Continuam a baixar
Na Beira Baixa, a redução tarifária passou de 40% para 60% no 2.º semestre de 2022, "resultando essa alteração num aumento da procura, com especial incidência nos passes urbanos".