Estudo divulgado pelo jornal "Financial Times", referente ao segmento de habitação de luxo, indica que a capital portuguesa teve o maior aumento nas rendas entre 30 das principais cidades do mundo.
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A capital portuguesa registou, entre janeiro e junho, uma subida de cerca de 14% nos valores de renda em habitações de luxo, segundo um estudo da agência imobiliária Savills, publicado terça-feira no Financial Times. O motivo do engrandecimento foi a especulação, em parte provocada pelo anúncio de medidas de controlo de rendas, aponta o jornal especializado em economia.
Das 30 capitais mundiais incluídas nos dados, 10 das quais da zona euro, Lisboa foi a que registou a subida mais elevada na mesma janela temporal (janeiro a junho). Em segundo e terceiro lugar estão Singapura (13.6%) e Berlim (9.2%). O estudo refere ainda uma taxa média de variação de (preço de) renda de 2.7% em Lisboa em 2022, face à média europeia de 1.7%.
Segundo o estudo, estes dados explicam-se, pelo menos parcialmente, pela “iminência de políticas de controlo de rendas”, que motivou os senhorios a cobrar, preventivamente, valores de renda mais elevados. Lisboa foi a capital europeia em que se verificou o maior agravamento do custo de arrendamento desde 2013: superior a Berlim, Londres, Madrid e Paris.
O agravamento das taxas de juro do crédito hipotecário também é um agente relevante. Em Portugal, conforme o estudo, este fator, agravado durante a pandemia de Covid-19, provocou um “efeito boomerang” entre as camadas populacionais mais jovens: muitos regressaram à casa dos pais, empurrados pelo elevado custo dos empréstimos.
Precisamente 68.3% dos portugueses entre os 25 e os 29 anos vivem com os pais, o que é um valor superior em 26.2% à média europeia (42.1%). Os requisitos de rendimento e a necessidade de grandes depósitos são outros fatores que tornam a aquisição de casa própria quase inviável no atual panorama nacional.
No plano europeu já se procuraram soluções para debelar este problema: os Países Baixos, por exemplo, testaram o desagravamento fiscal sobre o crédito hipotecário. Mas embora as rendas médias em alguns países tenham diminuído recentemente, o custo da habitação nos centros de emprego e de turismo tende a crescer quase ininterruptamente.
Motivo da especulação foi o Mais Habitação
Desde janeiro deste ano que está em vigor o limite de 2% na atualização do valor das rendas em Portugal. A medida preventiva, para novos contratos de arrendamento, foi também incluída no programa Mais Habitação do Partido Socialista, vetado esta segunda-feira pelo Presidente da República.
Segundo o Financial Times, este é um dos fatores chave para a compreensão do aumento súbito do preço das rendas em Portugal e, consequentemente, em Lisboa.
Crise na habitação é nociva para a carreira dos jovens
A permanência dos jovens nas cidades de origem pode culminar em menos oportunidades a nível de emprego, o que pode levar a uma consequente redução de “oportunidades económicas”. As economias nacionais e os mercados de trabalho correm, então, o risco de permanecerem estáticos por conta da falta de mobilidade geográfica, assegura o estudo.
A Savills é uma agência imobiliária, fundada em 1855, que opera no mercado de luxo internacional. Por este motivo, uma vez que a notícia do Financial Times cita a agência como fonte dos dados, estes dizem respeito somente a este segmento.