O líder do BE afirmou hoje, quinta-feira, que as medidas de austeridade vão provocar recessão na economia portuguesa em 2011 e acusou Governo e PSD de terem criado "um pântano político" e não acreditarem no acordo que protagonizaram.
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Discursando no debate do Estado da Nação, na Assembleia da República, acusou o primeiro ministro, José Sócrates, de ter feito uma intervenção de "um optimismo deslumbrado com a situação do país" e de ter alterado o seu rumo na resposta à crise.
Na sua intervenção, o coordenador do BE lembrou por diversas vezes uma citação da Mensagem, de Fernando Pessoa, feita pelo ministro das Finanças no discurso de encerramento do debate do Estado da Nação de 2009 para ironizar sobre a ação do executivo.
"No fim do último debate, dizia o Governo, encerrou com esta frase, "Aqui ao leme sou mais do que eu", foi assim que terminou o debate do Estado da Nação há um ano atrás, um ano depois temos mais 60 mil desempregados, mais 200 por dia, não é um oásis", afirmou.
"Verificado o que fez daqui ao leme, pedia-lhe que olhássemos para o próximo ano, porque os números do Governo são que no próximo ano, com estas medidas, vai haver mais 50 mil desempregados", acrescentou, lamentando a "confusão parlamentar" relativamente aos números sobre a pobreza.
Louçã criticou ainda José Sócrates por ter dito que a recessão económica que o Banco de Portugal "diz que pode ocorrer no próximo ano" é "uma probabilidade" e utilizou um exemplo que ficou célebre com o último Mundial de futebol.
"Entendamo-nos bem, uma probabilidade é por um polvo em cima de duas caixas, o coitado do bicho não sabe do jogo, nem conhece o árbitro, é uma questão de probabilidade ir para uma ou para outra, mas se o senhor aumenta o ataque à economia, reduzindo-a com aumento de impostos, é uma certeza que vai haver aumento do desemprego, que vai haver mais pobreza", disse.
Em seguida, o líder do BE considerou que o debate que encerra a sessão legislativa revelou "um pântano político": "O senhor fez um acordo com o PSD, é um acordo de dois anos para aumentar impostos e reduzir salários e viu-se que o senhor não acredita no acordo com o PSD, o PSD não acredita no acordo consigo e ninguém neste país acredita nesse acordo".
Na resposta, José Sócrates acusou o BE de estar "mortinho para fazer o jeito à direita e que haja uma crise política em Portugal" e de "sectarismo infantil de esquerda" -- lembrou o caso com José Sá Fernandes na Câmara de Lisboa - e criticando a "aliança" para a criação da comissão de inquérito ao caso PT/TVI.
O primeiro ministro vincou ainda ter sido outro membro do Governo a citar Pessoa, apesar de confessar o seu gosto pessoal pelo poeta, e acusou Louçã de com esse exemplo querer atribuir ao Governo uma postura de "vaidade", algo que rejeitou.
Sócrates disse não se considerar um optimista, mas "uma pessoa determinada", sublinhando não acompanhar a oposição no "glamour do pessimismo".
José Sócrates sublinhou que o complemento solidário para idosos e o aumento do salário mínimo foram medidas que permitiram reduzir a pobreza no país e citou várias estatísticas, assinalando que entre 2008 e 2009 a taxa de pobreza baixou de 11,8 para 10,3 por cento nos indivíduos empregados e de 22,3 para 20,3 entre os idosos.