"Fast food" e refeições à base de açúcar e gordura representam mais de 60% da oferta nas aplicações de entrega de comida. A maioria das campanhas promocionais, nestas aplicações, não abrange opções saudáveis. Na hora de escolher a bebida, muitos estabelecimentos não apresentam a opção de água.
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Um estudo, desenvolvido por investigadores da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), revelou que a maioria das refeições sugeridas nas aplicações de entrega de comida não promove uma alimentação saudável. A investigação, que será apresentada no 22.º Congresso de Nutrição e Alimentação, a decorrer entre quinta e sexta-feira, dá conta que cerca de 62% das refeições apresentadas são "fast food" e ricas em açúcar, gordura e sal.
"As aplicações de comida estão em crescimento e são práticas, acabam por dar resposta ao nosso dia-a-dia frenético", explica Inês Pádua, coordenadora do estudo. Num mundo em que cada vez mais existe a preocupação com a oferta apresentada nos espaços físicos, "também nos devemos começar a preocupar com os espaços digitais", sublinha.
O estudo decorreu entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023, em três municípios da região norte. Os investigadores focaram-se em municípios com diferentes graus de urbanização - Porto, Valongo e Paredes. "Curiosamente, conseguimos perceber que no Porto, o município com maior urbanização, é onde é possível encontrar mais ofertas saudáveis e tradicionais", ressalva Inês Pádua.
"Fast food" em 1º lugar
Depois de criarem um único consumidor padrão, em duas aplicações diferentes, utilizado sempre com o mesmo dispositivo, classificaram as sugestões que iam aparecendo em diversas categorias. A categoria de "fast food", uma das mais sugeridas, incluía estabelecimentos que vendem hambúrgueres, pizzas, frango frito, por exemplo.
Outra das categorias era a de comida tradicional portuguesa, que foi subdividida em duas: "mais saudável" e "menos saudável". Os restaurantes eram classificados na categoria de "comida tradicional portuguesa menos saudável" se apresentassem apenas um acompanhamento para as refeições, sendo esse não saudável, como as batatas fritas.
"As refeições de 'fast food' aparecem em maior número do que as refeições tradicionais e dentro destas, a preponderância é do subgrupo da opção menos saudável", explica Inês Pádua.
Os estabelecimentos só eram classificados como "não saudáveis" caso não apresentassem nenhuma opção saudável, ou seja, os restaurantes que tinham os dois tipos de opção eram considerados saudáveis.
Outra das categorias era a dos snacks salgados, onde se incluíam os estabelecimentos que vendem individualmente alimentos como nachos, batatas fritas e tacos, por exemplo. Para além destas, existiam mais categorias: vegetariana, água, batidos e sumos naturais, refrigerantes, bebidas alcoólicas, fruta, gelados e doces, pastelaria e padaria.
Água não é uma opção
O estudo relevou ainda que as opções menos interessantes do ponto de vista nutricional são as mais divulgadas através de publicidade, assim como são as que oferecem maiores descontos aos consumidores. "Conseguimos perceber ainda que muitos dos estabelecimentos não têm a opção de encomendar água, apenas refrigerantes ou álcool. A opção de água deveria ser uma condição base nestas aplicações", ressalva a coordenadora do estudo.
Também foi possível apurar que "no geral, é mais provável encontrar opções saudáveis nas horas de almoço e jantar", explica a investigadora. Acrescenta ainda que isto poderá ocorrer devido à maioria dos restaurantes de comida tradicional encerrarem durante o resto do dia. Tanto à hora do lanche, como do pequeno-almoço a maioria das sugestões são de "fast food", pastelaria e doces.
Os investigadores perceberam ainda que existem estabelecimentos que apresentam opções saudáveis no espaço físico mas nas aplicações só tem as menos saudáveis. "Encomendar comida tem sido associado a excesso e por isso, é preciso corrigir precocemente o digital", garante a investigadora. Acrescenta ainda que a investigação irá continuar, sendo alargada a outros municípios e a outros pontos de vista.
Refletir a alimentação
O 22.º Congresso de Nutrição e Alimentação, organizado pela Associação Portuguesa de Nutrição, tem como objetivo refletir a alimentação num mundo de mudança. O evento que junta cerca de 1500 pessoas está a decorrer desde ontem na Alfândega do Porto e irá continuar com reflexões durante o dia de hoje.
"Alterações climáticas, efeitos da pandemia, guerra numa proximidade geográfica, potencial de insegurança alimentar devido às flutuações inflacionárias, pobreza e incremento de doenças crónicas não transmissíveis vão obrigatoriamente impelir uma reestruturação na forma como pensamos a alimentação e nutrição da população", sublinha a presidente da associação, Célia Craveiro.
Esta edição irá ainda acolher o 3.º Congresso Internacional de Nutrição e Alimentação, reunindo figuras internacionais. "O que promove uma reflexão alargada dos temas prementes da nutrição".