Dos atuais presidentes de câmara, 89 não se podem recandidatar em outubro devido à limitação de mandatos e soma-se meia centena que deixou cargo nos últimos tempos.
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O PS está a apostar todas as fichas nas autárquicas após a pesada derrota nas legislativas, mas é o partido que corre o maior risco nas eleições de 12 de outubro, uma vez que a saída em peso de presidentes de câmara socialistas ditada pela limitação dos mandatos abre caminho a uma mudança de ciclo político. Dos 89 autarcas em funções que não se podem recandidatar, mais de metade é do PS, força maioritária no poder local. São 49 contra 21 eleitos pelo PSD ou em coligações lideradas por este partido. O Chega está apostado em conquistar municípios quer em territórios da Direita, quer da Esquerda.
Feitas agora as contas aos presidentes de câmara ainda em funções que não podem disputar o mesmo município, por terem cumprido três mandatos, para além dos 70 que respeitam ao PS e ao PSD, não poderão recandidatar-se 12 presidentes de autarquias da CDU, três autarcas candidatos pelo CDS-PP e quatro de movimentos independentes.
Na sequência do desaire nas legislativas, que levou Pedro Nuno Santos a bater com a porta, o novo secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, procura reunir as tropas para garantir que não perde terreno no mapa das autárquicas, onde, nas eleições de 2021, conseguiu que fossem eleitos 152 presidentes de câmara.
A mudança de protagonista é uma oportunidade para a oposição tirar autarquias ao PS e as divisões internas em vários pontos do país agravam este risco, até com mais do que um candidato na área socialista como acontece em Gondomar. Marco Martins saiu no final de janeiro para liderar a empresa Transportes Metropolitanos do Porto. O vice-presidente, Luís Filipe Araújo, assumiu o lugar e foi anunciado como candidato, mas da área socialista avança também Carlos Brás, como independente.
Chega tenta capitalizar
Entretanto, o Chega procura capitalizar estas divergências e as mudanças de ciclo como em Sintra, onde sai Basílio Horta. Em Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues já não está no cargo, tendo Marina Mendes assumido a presidência. O autarca anunciou a renúncia ao mandato a 15 de maio. No dia 30 de junho, o Tribunal Constitucional confirmou a perda de mandato por uso indevido de um carro do município.
Por outro lado, também a saída de autarcas históricos eleitos por outras forças políticas dá confiança ao PS de que poderá ganhar noutros municípios, como em território independente como é o caso do Porto, onde Rui Moreira deixa a presidência da Câmara, sem que haja uma sucessão clara. Filipe Araújo, vice-presidente, apresenta-se como candidato livre de “amarras” partidárias. Pelo PSD, avançou o ex-ministro Pedro Duarte e, pelo PS, volta a concorrer Manuel Pizarro, que tutelou a Saúde no Governo socialista.
Já nos bastiões do PSD, entre aqueles que não se podem recandidatar, estão por exemplo Ribau Esteves, de Aveiro, Carlos Carreiras, de Cascais, e Ricardo Rio, de Braga.
Entre concelhos perdidos e conquistados, José Luís Carneiro apontou como meta a manutenção da maioria de municípios e freguesias. E apelou aos socialistas para que se concentrem nesta batalha, deixando para depois um posicionamento sobre as presidenciais. As eleições de outubro serão um teste à nova liderança.
Meia centena já saiu
Para além dos 89 presidentes em funções que têm de sair devido à limitação de mandatos, há que somar quase meia centena que foram saindo nos últimos meses ou mesmo nos últimos anos. Uns para permitir a subida dos vice-presidentes antes das eleições, para que possam ganhar terreno, outros devido a processos judiciais e outros ainda para assumir novos desafios, como por exemplo o cargo de governante ou de deputado, ou outras funções públicas. Da lista de saídas prematuras constam, pelo menos, 28 autarcas eleitos pelo PSD ou em coligação, 16 do PS, um da CDU e outro do JPP.
Apesar da mudança forçada, há presidentes de Câmara que são cabeças de lista noutras autarquias, uma vez que a lei lhes permite essa transição que é muitas vezes feita para o concelho ao lado.
Viseu, Santarém e Porto com mais impedimentos
Dos atuais 89 presidentes que não se podem recandidatar, destacam-se os distritos de Viseu e Santarém, com oito casos, e o do Porto, com sete.
No distrito do Porto, para além do independente Rui Moreira, estão impedidos três autarcas do PS (Lousada, Paços de Ferreira e Valongo), e três do PSD (Póvoa, Penafiel e Amarante).
Na zona de Lisboa, são cinco: três socialistas (Sintra, Lourinhã e Alenquer), um do PSD (Cascais) e outro da CDU (Sobral de Monte Agraço). No Algarve há também cinco, sendo três autarcas do PS (Loulé, São Brás de Alportel e Olhão), um do PSD (Faro) e outro da CDU (Silves).
No distrito de Aveiro, são três do PSD (Aveiro, Estarreja e Murtosa), dois do CDS (Vale de Cambra e Albergaria-a-Velha) e um independente (Anadia). Em Braga, estão de saída um do PSD na capital do distrito e outro em Amares, mais um do PS em Guimarães.
PS faz pleno em Coimbra
Em Coimbra, os seis são do PS: Condeixa-a-Nova, Lousã, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Soure e Vila Nova de Poiares.
Santarém tem seis do PS (Almeirim, Chamusca, Coruche, Salvaterra de Magos, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha), uma da CDU (Benavente) e outra do PSD (Sardoal). Em Viseu, são três do PSD (Armamar, Tabuaço e Tarouca) e cinco do PS (São Pedro do Sul, Santa Comba Dão, Resende, Penalva do Castelo e Cinfães).
Já em Setúbal, a limitação de mandatos impõe a saída de cinco, sendo quatro da CDU (Palmela, Grândola, Santiago do Cacém e Alcácer do Sal) e apenas um do PS (Sines). De Viana, os dois de saída são do PS, em Paredes de Coura e Melgaço. Em Vila Real, a saída forçada acontece na câmara socialista de Santa Marta de Penaguião (ver mais distritos no mapa). Do país, só Bragança escapa.