Oposição é maior entre as mulheres, os mais pobres, e os que votam à Direita, revela barómetro da Pitagórica para o JN e TSF. Os mais velhos, os que vivem em Lisboa e os que ganham mais são mais tolerantes.
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Uma clara maioria de portugueses (54%) está a contra a medida que permitiu o perdão de penas a mais de um milhar de reclusos (apenas 26% concordam). Os maiores opositores são as mulheres, os mais pobres, os que vivem no Norte e os que votam à Direita. Os mais recetivos (mas sempre minoritários) são os mais velhos, os que ganham mais, os que vivem em Lisboa e os que votam à Esquerda.
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Foi a 8 de abril que a Assembleia da República aprovou um regime excecional dirigido à população prisional e que contemplava várias possibilidades: indultos (para presos com mais de 65 anos e problemas de saúde), saídas precárias extraordinárias (45 em vez dos habituais três dias) e perdão parcial de penas (menos de dois anos por cumprir, excluindo homicídios, crimes sexuais, violência doméstica, políticos e polícias).
A Esquerda parlamentar votou em bloco a favor, a Direita uniu-se na contestação, com Rui Rio a destacar-se: "não faz sentido nenhum", disse o líder do PSD. O tempo deu-lhe razão, pelo menos no que diz respeito ao sentimento da maioria da população. De acordo com o barómetro da Pitagórica para o JN e a TSF, o número de opositores mais do que duplica (54%) o número de defensores do perdão (26%).
Até ao passado dia 27 de abril (último balanço da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais), foram concedidos 14 indultos (com o selo de Marcelo Rebelo de Sousa), 674 saídas precárias de 45 dias (podem ser renovadas por igual período) e, finalmente, 1179 reclusos receberam o polémico perdão parcial de penas que antecipou a sua saída em definitivo da cadeia.
OPOSIÇÃO FEMININA
Quando se analisam os diferentes segmentos da amostra, no que diz respeito à faixa etária, escalão de rendimentos ou regiões, a tendência é sempre a mesma: a maioria está contra. Mas há algumas oscilações que vale a pena destacar.
A oposição é mais aguerrida entre as mulheres (57% são contra, face a 50% dos homens); entre os que têm 25/34 anos (72%), mas também 35/44 anos (62%); ou entre os que vivem nas regiões Norte (sem Grande Porto) e Sul (59%); finalmente, há uma evolução linear ao longo dos escalões de rendimento - quanto mais pobre, maior a oposição (58% no fundo).
Não havendo nenhum caso em que o apoio suplante a rejeição, é possível, mesmo assim, identificar sectores da população em que a tolerância à medida é maior: entre os dois escalões mais velhos (37% e 31%); entre os que vivem na região de Lisboa (34%); bem como o crescente apoio à medida quanto maior é o rendimento (32% no topo).
PS TAMBÉM ESTÁ CONTRA
Quando se tem em conta as opções partidárias, fica evidente que à Esquerda o apoio ao perdão é maior (no caso da CDU e do BE há mais gente a concordar do que a discordar), enquanto à Direita a oposição é mais renhida, com destaque para os eleitores do PSD (64% contra), pelo seu peso relativo na amostra.
No caso do PS, são mais o que discordam (43%) do que os que concordam (33%). Mas há um outro grupo que, pelo seu peso (tão grande como a soma de CDS, CDU e BE), vale a pena destacar: entre os eleitores de outros partidos, brancos e nulos, quase dois terços (62%) está contra o perdão de penas.
A BANCA QUE PAGUE A CRISE
Para além da emergência de saúde pública, a pandemia deu origem a uma recessão económica. Com consequências para as contas do Estado: as receitas descem, as despesas multiplicam-se. Como pagar a conta? A julgar pelas respostas dos portugueses, a fatura devia ser entregue à Banca. É o único caso em que há uma maioria a defender o agravamento de impostos (53% a favor, 33% contra).
De subir IRC às empresas, IRS aos trabalhadores, IVA aos consumidores, imposto sobre combustíveis a automobilistas, ou preços dos passes dos transportes, poucos querem ouvir falar: a percentagem dos que rejeitam essas soluções varia entre os 61% e os 74%.