Há mais pessoas a morrer em Portugal de outras causas que não a covid-19. O Instituto Nacional de Estatística (INE) dá conta de mais 4490 óbitos face à média dos últimos cinco anos. São portugueses que não morreram de coronavírus.
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O INE fez uma análise à mortalidade entre 2 de março (data em que foram diagnosticados os primeiros casos de doença covid-19 em Portugal) e 30 de agosto e concluiu que, nesse período, houve mais 6312 óbitos do que a média em período homólogo dos últimos cinco anos. Destes, apenas 1822 foram devido à covid-19.
A mortalidade em Portugal disparou e está acima da média europeia. Olhando para os dados disponibilizados por 24 países ao Eurostat, constata-se que o nosso país apresenta uma sobremortalidade acima da média europeia desde maio. Entre 2 de março e 30 de agosto, registaram-se 57971 mortes em Portugal: 28400 homens e 29391 mulheres. Mais de 70% dos óbitos foram de idosos com 75 anos ou mais. Nesta faixa etária, faleceram mais 5518 pessoas face à média dos últimos cinco anos (2015-2019).
A região Norte lidera o excesso de mortalidade com mais 2752 mortes do que a média do período homólogo de 2015-19, seguida da Área Metropolitana de Lisboa, que contabiliza mais 1592 óbitos. O Centro, o Alentejo e o Algarve tiveram mais 1192, 521 e 217 óbitos respetivamente. Também as regiões autónomas da Madeira e dos Açores mostram um acréscimo, embora menos acentuado (mais 69 e 57 mortes respetivamente).
Dos quase 58 mil óbitos ocorridos entre março e agosto deste ano, 34 mil aconteceram nos hospitais e 23624 ocorreram em casa ou noutros locais. Comparando com os últimos cinco anos, o INE indica que o aumento de mortes em contexto hospitalar cresceu muito menos (mais 1695) do que em casa e noutros locais (mais 4617). "O excedente de óbitos fora do contexto hospitalar é importante ao longo de todas as semanas, mas especialmente até ao início de junho. Nas últimas semanas, o aumento de óbitos repartiu-se de forma mais equilibrada entre meios hospitalar e fora", pode ler-se no relatório preliminar do instituto, publicado esta sexta-feira.
O pico do excesso de mortalidade em Portugal não aconteceu nos períodos em que o país vivia com maiores constrangimentos (estado de emergência e estado de calamidade), mas quando a generalidade do território se encontrava já em estado de alerta. O ponto mais elevado da mortalidade em 2020 relativamente à média do período homólogo de 2015 a 2019 foi na semana de 13 a 19 de julho, com um acréscimo de cerca de 800 mortes, "ao qual não será alheio o facto de o mês de julho ter sido extremamente quente e com ondas de calor", justifica o INE.
O instituto destaca outros três picos de mortalidade em Portugal entre março e agosto, sempre em comparação com a média dos últimos cinco anos. O primeiro foi na semana de 6 a 12 de abril, com o pais confinado e os números da infeção pelo coronavírus a subirem. Seguiu-se uma redução gradual até ao final do período do estado de emergência. O segundo pico aconteceu entre os dias 25 e 31 de maio durante o estado de calamidade. O terceiro pico sucedeu na semana de 22 a 28 de junho.
Nas últimas semanas, houve uma redução da sobremortalidade. Só parte deste acréscimo da mortalidade é explicado pela covid-19, adverte o INE, sobretudo em julho em que há um excesso de óbitos que os registos oficiais das mortes por infeção pelo coronavírus não conseguem explicar.
"Uma das consequências mais dramáticas dos efeitos da pandemia diz respeito ao aumento do número total de óbitos. O número de óbitos por covid-19 fornece apenas uma medida parcial desses efeitos. Uma medida mais abrangente do impacto na mortalidade pode ser fornecida pela diferença entre o número de óbitos, por todas as causas de morte, em 2020 e a média dos últimos cincos anos (2015-2019), não obstante outros efeitos sobre a mortalidade, como a gripe sazonal e os picos ou as ondas de calor ou de frio", assinala ainda o instituto, que consultou os assentos de óbito registado no Sistema Integrado do Registo e Identificação Civil.