O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) e a Ordem dos Médicos (OM) exigem que as autoridades de saúde investiguem as causas que estão na origem do excesso de mortalidade registado no país desde o início da pandemia.
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Alexandre Lourenço e Miguel Guimarães acreditam que parte destas mortes para lá do habitual resulta das dificuldades de acesso aos cuidados de saúde, que têm sido confirmadas em estudos recentes apresentados pelo "Movimento Saúde em Dia - Não Mascare a sua Saúde".
Refira-se que, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, entre 2 de março e 30 de agosto, houve mais 6312 óbitos do que a média em período homólogo dos últimos cinco anos. Destes, apenas 1822 foram por covid-19.
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"As autoridades de saúde têm obrigação de investigar as causas de morte do excesso de mortalidade. Em nossa opinião está relacionado com o receio em aceder aos cuidados de saúde e com o facto de o sistema não estar a oferecer estes cuidados", referiu Alexandre Lourenço, no final de uma conferência promovida pela OM, APAH e pela farmacêutica Roche.
A Direção- Geral da Saúde já informou estar a estudar as causas do excesso de mortalidade, bem como o "aumento das mortes certificadas como "noutro lugar" e no "domicílio", e dos óbitos "sujeitos a investigação" no ano de 2020 em relação aos cinco anos anteriores", segundo a TSF.
Na sessão, o bastonário dos Médicos desafiou os promotores do movimento a apresentarem medidas concretas ao Governo, com data e orçamento, para resolver os problemas que limitam o acesso ao SNS.
Segundo o estudo "Acesso a cuidados de saúde em tempos de pandemia"- realizado pela GFK Metris, divulgado ontem - mais de metade dos portugueses considera que a pandemia dificultou o acesso aos cuidados de saúde, especialmente os idosos e os doentes crónicos.
Consultas canceladas
O inquérito conclui que dos 664 mil portugueses que se sentiram doentes entre março e agosto, 31% (210 mil) não procuraram cuidados. Naquele período, dois milhões de utentes tiveram algum ato médico presencial por oposição a 692 mil que não conseguiram concretizar as consultas marcadas. Quase todas foram canceladas pelas unidades de saúde e metade dos doentes concordaram com a decisão.
O estudo revela ainda que cerca de metade dos portugueses se sentem seguros no acesso aos cuidados de saúde. Os outros receiam o risco de contágio.
Pormenores
Consultas por telefone
775 mil portugueses tiveram consulta médica por telemedicina e 90% concretizaram-na. Porém, em 95% dos casos as consultas foram por telefone, apenas 4% envolveram imagem.
Bom acesso a fármacos
99% dos portugueses não tiveram dificuldades no acesso a medicamentos na fase estudada. E os 60% de doentes crónicos que passaram a receber a medicação de farmácia hospitalar em casa ou na farmácia comunitária relatam uma experiência muito positiva.
Amostra da população
Com questionários presenciais, o inquérito foi feito de 28 de agosto a 7 de setembro, e tem uma amostra representativa da população (1009 pessoas residentes no continente).