Desde 2014, número de estudantes aumentou dez vezes. Escolas somam vitórias em concursos. Apesar da evolução, projetos vivem da "carolice" dos professores, que pedem um reforço de apoio.
Corpo do artigo
Há escolas públicas em Portugal que já venceram mais de uma dezena de campeonatos internacionais de robótica. Este ano letivo há 402 clubes de programação e robótica nos agrupamentos, frequentados por quase 35 mil alunos. Em 2014 eram 104 clubes e cerca de 3200 alunos. Apesar da evolução, coordenadores de projetos consideram que a aposta nesta área "peca por tardia" e dizem que continua a ser feita por "carolice" dos professores.
Num contexto em que a programação se prepara para integrar, a partir do próximo ano letivo, o currículo da Matemática no ensino Básico e em que a transição digital no ensino é bandeira do Governo, Jaime Rei lamenta que os clubes de programação e robótica não tenham crédito horário atribuído. O clube que coordena, no agrupamento de São Gonçalo, em Torres Vedras, desde 2014 já venceu 35 provas nacionais e 14 internacionais, incluindo campeonatos do mundo.
"Devemos ser das escolas mais premiadas do mundo. No entanto, um professor que coordene uma equipa de desporto escolar pode ter uma turma atribuída e eu no ano passado tive 17", lamenta. Jaime Rei este ano teve menos turmas por ter aceite o desafio do Ministério da Educação para dar formação a professores. Deu formação a 260, tem mais de 250 inscritos até final de junho e a página criada no Facebook para criar uma rede de partilha tem 482 aderentes.
A formação pretende dotar os professores de novas metodologias. A intenção é a de alargar a programação e robótica para lá dos clubes, frisa o Ministério da Educação em resposta enviada ao JN. Podem surgir novos clubes, mas o "objetivo principal é o de os docentes de qualquer disciplina ou ciclo passarem a deter também estes conhecimentos e ferramentas como recursos adicionais para o trabalho diário com os seus alunos", explica a tutela.
Portas abertas
Tanto o clube de Torres Vedras como o da secundária de Barcelinhos têm dois aspetos em comum: as duas escolas oferecem robótica como oferta de escola no 9.º ano e ambas mantêm o clube aberto a alunos externos ao agrupamento.
"Somos catalisadores"
Este ano, uma equipa do clube de Barcelinhos sagrou-se campeã nacional e pode ir à Tailândia representar Portugal no campeonato do mundo em julho. A pandemia atrasou a prova e a escola está com dificuldade em conseguir recolher financiamento. Para três alunos e dois professores o orçamento ronda os dez mil euros, sem nenhum apoio do Ministério da Educação.
O impacto no desenvolvimento dos alunos "é incrível", garantem os dois professores. Rui Baptista, coordenador do clube de Barcelinhos, recorda um aluno, de uma família carenciada em risco de abandono escolar, para quem o clube foi a motivação que o levou até ao doutoramento em Engenharia Informática. Outro formou-se no Reino Unido. "Acredito que ajudei a mudar-lhes a vida e isso enche-me de orgulho. Nós somos catalisadores", sublinha.
"Preciso de problemas e de novos desafios como de pão para a boca", diz Jaime Rei. O clube de Torres Vedras irá à Alemanha em novembro participar nas olimpíadas. A equipa de Barcelos venceu com um projeto que reproduz o jogo Angry Birds em robots.
O clube aposta na vertente lúdica, explica ainda Rui Baptista, dando o exemplo de galos robôs e minhocas bailarinas. Em Torres Vedras, muitos projetos são soluções para limitações na área da saúde. De resto, o lugar nas olimpíadas foi ganho com um aparelho que permite a tetraplégicos escrever em tablets e em telemóveis.
À margem
À espera de verbas
Os clubes recebem uma verba anual atribuída por concurso da Direção Geral de Educação. São Gonçalo costuma receber cerca de 300 euros. Este ano, as escolas continuam à espera. O ME garante que as verbas serão distribuídas após entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2022.
Rede nacional
O programa arrancou com 104 clubes, que envolviam 3244 alunos e 228 professores. Este ano, são 402 clubes que abrangem 34747 alunos e 1670 professores. ME garante que há clubes em todos os distritos do país e todos os ciclos de ensino.