Oftalmologia é a especialidade com mais pedidos. Livre acesso agravou os tempos de espera em alguns casos.
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São cada vez mais os utentes que solicitaram aos médicos de família para serem seguidos em hospitais que não os das respetivas áreas de residência. Até final de agosto passado, o sistema de Livre Acesso e Circulação de Utentes (LAC) registou 514 132 pedidos de primeira consulta. Desde que entrou em vigor, a 1 de junho de 2016, a opção tem sido cada vez mais utilizada.
Os dados da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS), a que o JN teve acesso, mostram que os oito primeiros meses de 2018 registaram o maior número de pedidos: 223 157, que correspondem a 13% do total de pessoas que foram referenciados para primeira consulta de especialidade.
Na opinião de Alexandre Lourenço, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, é nas regiões da Grande Lisboa e do Grande Porto que "porventura existirá mais circulação de doentes". Em regiões como Bragança ou Castelo Branco, prossegue, os utentes deparam-se com a "barreira da distância" que, por seu lado, também cria uma "barreira económica".
Rui Nogueira, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, vê nesta a medida "uma mais-valia importante par aos utentes". No entanto, considera necessária uma avaliação de resultados, para que os hospitais "se adaptem às necessidades".
De acordo com o médico, são os doentes que pedem para terem consultas em outras unidades hospitalares. Muitas vezes, por ficarem mais próximos da residência de familiares que os podem acompanhar, e não tanto por acharem que terão de esperar menos tempo pela consulta, explica.
mais de 400 dias de espera
Cinco centros hospitalares de Lisboa e do Porto são aqueles que receberam mais de metade dos pedidos. Mas, por exemplo, na especialidade de Oftalmologia - a que é a mais procurada - o tempo de espera para um consulta do tipo "normal" ultrapassava os 400 dias nos centros hospitalares de Lisboa Norte (Santa Maria) e no de S. João (Porto), segundo os dados de agosto a outubro de 2018 divulgados pelo portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Alexandre Lourenço considera que "existe um problema grave de acesso à consulta externa", que já se verificava antes da liberdade de escolha ser possível. "O que não fazia sentido era referenciar os doentes sem os informar dos tempos de espera", refere, admitindo a existência de "casos pontuais", em algumas especialidades, em que o LAC veio a aumentar os tempos de espera.
"Temos de encontrar soluções", adianta, apontando três medidas que podiam contribuir para minimizar o recurso às consultas de especialidade. Uma delas é a capacitação dos médicos de família na "área da gestão da doença crónica", outra a "introdução de novas profissões no SNS" e também o recurso a novas tecnologias, como acontece com o rastreio do cancro da pele por teledermatologia.
SABER MAIS
5 especialidades
Desde que o LAC entrou em funcionamento, as consultas de Oftalmologia são as que têm registado mais pedidos (69 995). Seguem-se as de Dermato-venerologia (62 982), Ortopedia (56 850), Otorrinolaringologia (30 395) e Cirurgia Geral (27 769).
Maior espera
Oftalmologia é também a especialidade com tempos de espera mais elevados para os pedidos de consulta normal. Segue-se a dermato-venerologia. O tempo máximo de resposta é de 150 dias.
12,1 milhões de consultas em 2018 no SNS
No ano passado, realizaram-se 12 181 000 consultas hospitalares no SNS, mais 0,8% do que em 2017. Destas, 3 496 000 foram primeiras consultas e as restantes 8 685 000 de seguimento.
272.965 pedidos para cinco centros hospitalares
Mais de metade (53%) dos pedidos foram para os centros hospitalares de Lisboa Norte (65 929), Lisboa Central (63 433), do Porto (58 476), de S. João (54 856) e de Lisboa Ocidental (30 271).