Reunido no jardim da Cordoaria, na zona da movida do Porto, um grupo de quatro amigos, três rapazes e uma rapariga, aguarda que outros colegas se juntem ao convívio madrugador. Daniela, 21 anos, não tira os olhos do telemóvel: ora olha, ora tecla com rapidez. A madrugada de sábado caminha para as 2 horas e num banco repousa um saco de supermercado. E bebidas. Algumas garrafas sobraram de uma festa, garantem os jovens, a aparência ainda no limiar da maioridade.
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O quarteto está sóbrio e jura que o álcool é só para desinibir; nada de excessos comatosos. Muito menos quando é preciso pegar no volante - é ponto de honra para António, universitário de 22 anos, que afirma ter a "responsabilidade" de "beber pouco" quando sabe que vai conduzir. "O que mais compensa numa noite é divertirmo-nos até um certo patamar. A primeira coisa que queremos com o álcool é que nos deixe mais desinibidos, conversadores e divertidos. Muitas vezes, vamos às compras, trazemos umas garrafas de vinho e sentamo-nos aqui, a beber", conta António, que nota que o consumo de álcool entre menores está a "aumentar assustadoramente".
"Há um controlo grande [na venda] do tabaco, mas, sobre a venda de bebidas na noite, sinto que não há controlo nenhum. O lucro fala mais alto", observa António. Três anos mais novo, Rafael atalha: "Mais depressa perguntam no cinema se tenho 18 anos do que aqui [nos bares]".
Funcionar fora de horas
A coordenar uma operação policial de visibilidade na zona da movida, o subcomissário Hugo Silva, da PSP, refere que, nestas ações, "é residual" o número de infrações detetadas a nível de venda de álcool a menores. Muitos jovens alegam, por exemplo, que trouxeram bebidas de casa ou que foram adquiridas por amigos maiores de idade.
Contudo, apesar da madrugada mais "calma" do que seria de esperar num fim de semana de agosto, há sempre alguma ação. A Polícia Municipal tem a indicação de que um bar na Rua Conde de Vizela "está em incumprimento" e a PSP dá apoio à intervenção.
O estabelecimento, que deveria ter fechado às 2 horas, apenas tinha corrido as grades e, quase uma hora depois, continuava a abarrotar. À ordem da polícia para encerrar, saem para a rua estreita perto de 300 pessoas. São 4 horas e, ali perto, Gabriela Soares e as duas amigas esperam pelo carro da Uber que há de levá-las a casa. Têm entre 19 e 27 anos, e dizem que "sempre houve" menores a beber na noite. "Há sítios onde já nos conhecem e não pedem a nossa identificação", diz.
Pedidos das escolas
Na noite vimaranense, excetuando durante as Festas Nicolinas, a polícia não encontra muitos casos. O JN, acompanhando uma patrulha da PSP de Guimarães pela madrugada, confirma: uma carteira perdida, pessoas a pedir informações e um grupo de aceleras. Não foram vistas pessoas visivelmente alcoolizadas e, mesmo que a cara de alguns jovens de copo de cerveja na mão levantasse dúvidas quanto à idade, esta não era uma noite para fiscalizar.
A PSP confirma que tem atuado, nesta matéria, sobretudo a pedido das escolas. "A maioria das solicitações vem do Ensino Profissional e está relacionada com alunos com percursos escolares já com problemas. As escolas não têm capacidade de distinguir o alcoolismo do consumo de outras drogas e pedem ajuda", esclarece o comissário.
Em noite de Festas Gualterianas, com quase todo o centro da cidade ocupado pelas festividades, o comissário Vítor Silva apresenta-se tranquilo. "Nestas noites, o nosso objetivo é sermos visíveis", afirma. "Com tanta gente a afluir ao centro, a organização espera 300 mil pessoas, temos que concentrar meios. As ações de fiscalização deixam de ser uma prioridade".
A questão do álcool coloca-se na noite do Pinheiro, durante as Festas Nicolinas. "Nessa altura, não é um problema de consumo só pelos menores, é generalizado. Há o consumo pelos estudantes, mas também pelos antigos nicolinos e até por gente que vem de fora, porque a celebração se tornou uma atração turística".