Hospital de São João alarga, esta quinta-feira, a dispensa de proximidade ao cancro da mama e esclerose múltipla. Está em estudo um modelo para implantar em todo o país.
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A partir desta quinta-feira, os doentes de cancro da mama e esclerose múltipla do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, podem levantar os medicamentos cedidos pelo hospital numa farmácia próxima de casa, evitando deslocações mensais de vários quilómetros. É o alargamento do projeto Farma2Care, que começou em dezembro do ano passado, para os doentes com VIH. Vários hospitais do país já avançaram com projetos-piloto idênticos e, em junho, o Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho para estudar um modelo para implementar em todo o país.
O alargamento do Farma2Care beneficiará cerca de 1500 doentes, que já tomam estes fármacos no domicílio. "Estamos a falar apenas de medicamentos que podem ser tomados em casa em segurança", explica Carlos Lima Alves, coordenador do projeto. Na prática, só muda o local onde se levanta a medicação. A decisão é do doente. Se preferir, pode continuar a levantar a medicação no hospital.
Mais adesão terapêutica
No caso do cancro da mama, em geral, são hormonoterapias, tratamentos que podem durar anos. Na esclerose múltipla, em que muitos doentes ficam com dificuldades de mobilidade, as vantagens da dispensa de proximidade são ainda mais significativas.
Além das vantagens de proximidade, o projeto contribui para a adesão dos doentes à terapêutica. "O farmacêutico acompanha e tira dúvidas e mantemos a segurança de as pessoas não armazenarem grandes quantidades de medicamentos em casa", refere Carlos Lima Alves.
Dez meses depois de o projeto ter arrancado, foram dispensadas 243 embalagens de medicamentos para doentes de VIH/sida, em farmácias indicadas pelos próprios. O objetivo é alargar gradualmente a outras patologias.
"Pilotos" são exemplo
O Farma2Care resulta de uma parceria com a Ordem dos Farmacêuticos, a Associação Nacional de Farmácias e a Associação de Distribuidores Farmacêuticos. É um projeto-piloto e não envolve custos para o S. João.
O Hospital Garcia de Orta, IPO de Lisboa, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Centro Hospitalar Tondela-Viseu já desenvolveram projetos semelhantes.
Por isso, juntamente com o CHUSJ, fazem parte do grupo de trabalho criado para "avaliar as várias experiências em curso" em termos de resultados obtidos, benefícios para o utente e custos associados.
O grupo tem também de "desenvolver modelos de circuito de prescrição, gestão e dispensa a adotar pelas instituições do SNS a nível nacional, centrado nas preferências do doente relativamente ao local de dispensa, garantindo proximidade, segurança, efetividade e terapêutica ao melhor custo", pode ler-se no despacho. Se necessário, pode apresentar alterações legislativas para a concretização do modelo a implementar.
O despacho, assinado pela ex-secretária de Estado e Adjunta do Ministério da Saúde, Jamila Madeira, data de 30 de junho e dá 60 dias para a execução do trabalho. Contudo, o JN sabe que ainda não está concluído. Depois de terminado, será objeto de consulta às ordens profissionais, associações do setor e associações de doentes.
Entregas em casa
Em abril passado, em plena primeira fase da pandemia, o Ministério da Saúde determinou a entrega de medicamentos hospitalares nas farmácias comunitárias e ao domicílio para evitar as deslocações aos hospitais. Milhares de doentes beneficiaram deste apoio, mas a medida excecional não é sustentável a longo prazo.
Estruturas sólidas
"Foi uma situação excecional que não pode ser alargada no tempo", refere Carlos Lima Alves, considerando que é preciso criar estruturas mais sólidas, que acompanhem o medicamento a cada momento, garantam as condições de segurança do mesmo, o sigilo do destinatário. Ou seja, projetos como o Farma2Care, defende.