Dia Nacional do Cientista é assinalado esta terça-feira com manifestação em Lisboa.
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Os investigadores estão cansados da precariedade laboral em Portugal e, hoje, Dia Nacional do Cientista, manifestam-se para pedir estabilidade. Há mais de 3000 profissionais nesta situação. A manifestação está marcada para as 14 horas na Reitoria da Universidade de Lisboa e segue para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Cristina Pratas Cruzeiro, investigadora do Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa é um exemplo desta precariedade. É doutorada, tem 44 anos e viveu as últimas duas décadas de bolsa em bolsa. Recentemente conseguiu um contrato da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), mas tem a duração de seis anos.
"Há sempre um grande sufoco em relação ao que vem a seguir", desabafa, sublinhando que quem quer ser cientista em Portugal está constantemente a "adiar" a vida pessoal por falta de estabilidade. No seu caso, tem evitado avançar para a aquisição de habitação própria.
A investigadora já pensou ir para o estrangeiro, mas se o fizer é "de coração partido". "Gostava de ficar no meu país e de contribuir para o sistema científico", mas "era importante que o Estado investisse nesta área e nas carreiras", defende.
Cada vez mais precários
Segundo a presidente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), Bárbara Carvalho, as políticas dos últimos anos têm "agudizado a precariedade" ao invés de dar resposta à situação. "Cerca de 90% dos contratados doutorados são precários, estão a prazo", denuncia Bárbara Carvalho, explicando que existem pelo menos "3631 com vínculo precário pela FCT", contra 458 com contratos permanentes.
"É preciso combater a precariedade não só para dignificar a profissão e a vida dos trabalhadores, mas também a ciência que fazemos", diz Bárbara Carvalho. As reivindicações incluem, entre outras coisas, o reforço do financiamento atual para o emprego científico de doutorados, a revogação do Estatuto do Bolseiro de Investigação e a substituição de todas as bolsas por contratos de trabalho, a contratação sem termo dos trabalhadores científicos que exercem funções de carácter permanente e a contratação sem termo dos "falsos" docentes convidados.
A manifestação é promovida pela ABIC, pela Federação Nacional dos Professores (FENPROF) e pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), em conjunto com organizações de várias áreas da Ciência e do Ensino Superior.
Em conferência de imprensa, Artur Sequeira, da FNSTFPS, recordou que a carreira de investigação científica "existe, mas não está a ser aplicada". Paulo Granjo, dirigente do Departamento de Ensino Superior e Investigação da FENPROF, alertou para a "ameaça de despedimento generalizado de quase 3 mil investigadores" ao longo dos próximos anos, se não forem lançados os concursos de carreira necessários ao desempenho das suas funções.