Desmaterialização abrange 66 agrupamentos e cerca de 12 mil alunos, número mais do que triplicou face ao ano passado. Em Sesimbra, melhorou a aprendizagem e o comportamento.
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Rafael Condesso não esconde o entusiasmo por trocar os livros em papel por um computador. É um dos 12 mil alunos de 66 agrupamentos de escolas que estão a usar este método que o Governo pretende que seja uma realidade em todas as escolas do país até 2026. O aluno de 12 anos integra uma das duas turmas da Escola Básica Dr. Costa Matos, em Gaia, que este ano letivo abraçou o projeto. Em todo o país, quase triplicou o número de agrupamentos a usar manuais digitais.
João Costa, ministro da Educação, disse à agência Lusa esperar que até ao final da legislatura (que termina em 2026) esta seja uma realidade em todas as escolas. O ministério vai nos próximos meses trabalhar com as editoras - que são quem produz estes conteúdos - para definir como irá avançar a medida. O programa do Governo diz que o objetivo é usar as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para dotar as escolas de instrumentos e meios de modernização tecnológica e promover a generalização das competências digitais de alunos e professores.
acertar com editoras
O calendário da chegada dos manuais digitais aos diferentes níveis de ensino terá de ser acertado "com os tempos das aquisições e revitalizações dos manuais escolares em papel", disse o ministro João Costa.
A desmaterialização de manuais escolares abrangeu, no ano letivo passado, 24 agrupamentos e 3700 alunos. O Agrupamento de Escolas da Boa Água, em Sesimbra, foi um dos primeiros a fazê-lo. A transição começou a ser feita em 2014 e o balanço é muito positivo: os alunos estão mais motivados, não há processos disciplinares e há menos peso nas mochilas. "Os alunos são muito mais felizes na sala de aula e aprendem com gosto", afirmou Nuno Mantas, diretor do Agrupamento de Escolas da Boa Água, onde todas as turmas a partir do 4.º ano utilizam recursos digitais nas aulas.
"Temos um sistema de aprendizagem completamente diferente. Trabalhamos sempre com grupos e os professores não fazem o trabalho tradicional de ensino. Ajudam no processo de aprendizagem. Os alunos portam-se muito bem porque são felizes a fazer as coisas assim. Não temos problemas disciplinares", destacou o diretor, apontando ainda como mais-valias "o menor peso nas mochilas", a "diminuição do desperdício" do papel e o "acesso a um universo de informação digital muito mais apelativo" nos "dispositivos e bases de dados que as editoras constroem".
Na Escola Dr. Costa Matos, em Gaia, os livros digitais abrangem duas turmas e 51 alunos. O objetivo é alargar nos próximos anos.
seguro para acidentes
Filinto Lima, diretor do agrupamento, aponta "um leque" de aspetos positivos. "O processo de ensino-aprendizagem vai ser diferente. Vamos recorrer a um instrumento de trabalho que os alunos utilizam diariamente e aliviar o peso das mochilas", notou o diretor, confiante que o método vai permitir motivar mais os alunos. "Os miúdos estão entusiasmados e motivados para aprenderem de uma forma diferente", frisou.
Rafael Condesso, que frequenta o 7.º ano, confirma o entusiasmo: "Acho esta medida uma boa ideia porque o futuro vai ser digital". Embora esteja otimista, a mãe de Rafael confessa algumas reservas. Um dos receios prende-se com a possibilidade de o filho, ao mudar de escola, ter de voltar ao papel. Mas há outras. "As minhas preocupações passam pelas infraestruturas de rede na escola, pela igualdade na capacitação digital dos alunos e pela forma como vão ser feitas as avaliações. Será que os resultados escolares vão mudar?", questionou Celine Condesso, mostrando-se confiante no processo e nos docentes.
Para as aulas, os alunos vão usar computadores fornecidos pela escola. O acesso aos manuais e demais recursos educativos será feito através das plataformas virtuais das editoras com as quais a escola adotou os livros. Destacando que esta é uma oportunidade para "dar uso ao investimento que o Ministério fez em material digital", Filinto Lima pede à tutela que crie um seguro para proteger os computadores em caso de estragos por acidente. "Os pais têm receio de que, se o aluno trouxer todos os dias o computador, o possam perder ou roubar. O Ministério da Educação deve pensar num seguro."
Reforço
Problemas de rede têm os dias contados
Segundo um estudo da Universidade Católica, citado pelo ministro, os manuais digitais tiveram uma "belíssima adesão" por parte de alunos, professores e famílias. Entre os principais problemas identificados estava a qualidade da Internet nas escolas mas, segundo João Costa, "dentro de dois anos" este será um problema do passado já que decorrem concursos para melhorar a rapidez do serviço. Outra novidade é a instalação de cerca de 1300 laboratórios de educação digital este ano.
Saber mais
2026
Prazo estimado pelo ministro da Educação, João Costa, em entrevista à agência Lusa, para que os manuais digitais sejam uma realidade em todas as escolas do país.
Novas salas TIC
Segundo o ministro, a partir do momento em que cada aluno tem o seu portátil, o modelo da sala TIC, onde estão os computadores, torna-se desnecessário. Mas são necessários espaços onde há impressoras 3D e mesas de modelação.