Manuel Pizarro: "A ambição é concluir cinco mil casas de habitação social no primeiro mandato"
Manuel Pizarro falou ao JN e à TSF sobre a sua candidatura à Câmara Municipal do Porto.
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Manuel Pizarro tem 61 anos, é médico e deputado, foi secretário de Estado e ministro da Saúde, eurodeputado e vereador da Câmara do Porto, depois de perder duas eleições para Rui Moreira. Vai tentar uma terceira vez, com o atual presidente impedido de se recandidatar, por limitação de mandatos. Uma motivação adicional para o socialista, que tem ambições e ideias fortes para o problema da falta de casas.
Por que razão quer ser presidente da Câmara do Porto, depois de ter perdido duas vezes?
Porque amo a minha cidade e acho que estou muito bem preparado para ser o presidente que os portuenses e a cidade necessitam. O facto de ter perdido duas eleições não me angustia. Se vir a história política do Mundo, e não me quero comparar com nenhum dos personagens que vou citar, houve muitas pessoas que não foram ganhadoras logo à primeira. Barack Obama perdeu as eleições para representante do Congresso e, oito anos depois, venceu as eleições para presidente dos EUA; Churchill perdeu duas eleições a seguir à guerra, em 1945 e 1950, mas ganhou em 1951. O facto de um democrata perder eleições não o afasta de uma corrida.
Gostaria de ter outros partidos a acompanhá-lo em coligação?
Aceito e procuro o apoio de todas as instituições do Porto e incluo os partidos nessa possibilidade, mas o PS apresentar-se-á sozinho a eleições. É a forma mais leal de nos apresentarmos. Quero recordar que apesar de não ter estado sempre a trabalhar no Porto, fui ministro e deputado ao Parlamento Europeu, e fiz sempre coisas pelo Porto. Quando fui secretário de Estado, ajudei a lançar a obra do Centro Materno Infantil. Antes e durante a minha permanência como deputado europeu, lancei a Ala Pediátrica do Hospital de São João. Enquanto ministro, coloquei a sede da Direção Executiva do SNS no Porto. Em cada momento, tive sempre Porto como centro da minha ação política e das minhas preocupações. É isso que vou continuar a fazer.
As coligações estão excluídas?
Sim, não me parece que isso seja nem necessário nem normal. Manifestamente, fizemos muitas coisas a favor do Porto.
Mesmo não havendo Rui Moreira como candidato, o movimento que o apoiou podia ser um bom parceiro para um mandato liderado por si?
Eu tenho da gestão de Rui Moreira e dos seus vereadores na Câmara uma apreciação com muitos aspetos positivos. Há coisas que precisam de ser melhoradas, novos problemas que surgiram e não tiveram resposta com a dimensão e rapidez que era necessária, mas há muitas que foram bem feitas. Aliás, há muitas obras lançadas precisamente nesse primeiro mandato em que eu fazia parte da coligação que governava a Câmara. Nunca me verá estar contra aquilo que lançámos nessa altura: a recuperação do Mercado do Bolhão, a reabilitação do Matadouro, o aluguer e o lançamento do Batalha como um centro de cinema da cidade, a reanimação do Teatro Municipal do Porto, o Rivoli e o Campo Alegre, toda uma nova estratégia de reabilitação dos bairros de habitação pública, a expansão do metro do Porto. Estou completamente comprometido com tudo isso.
Gostaria de enfrentar o social-democrata Pedro Duarte?
Já tenho trabalho para constituir as listas do PS, angariar apoios, construir um projeto político vencedor, não me peça para também tratar de resolver o problema dos meus adversários. Vejo que há muitas hesitações… Há uma coisa que posso garantir: nunca dependerei da autorização de ninguém, nem da insistência de ninguém, nem do pedido de ninguém para ser candidato ao Porto. Eu sou candidato ao Porto porque acredito na cidade e acredito na valia da minha intervenção e no projeto que libero.
Pode depreender-se das suas palavras que Pedro Duarte está a ser empurrado para a Câmara do Porto?
Não, não. Só falo pela positiva. Não preciso nem precisei da autorização nem do impulso de ninguém para ser candidato.
Mas não diz se gostava de ter Pedro Duarte como adversário…
Não vou cometer a indelicadeza de escolher quem é que os outros partidos vão apresentar. Eu vejo que estão com dificuldades e surpreendo-me um pouco, mas, enfim, isso significa que, porventura, para eles, o Porto não é tão importante como é para mim.
Esteve na vereação de Rui Moreira com uma pasta que está no topo das prioridades, a habitação. Qual a sua estratégia?
No Porto, como acontece no conjunto do país e um pouco por toda a Europa, a situação da habitação e do acesso à habitação por parte dos jovens e classes médias é uma calamidade. Não há qualquer possibilidade de um cidadão com rendimentos médios aceder a uma habitação na cidade do Porto. E isso significa isso que nós devemos combater o mercado? Do meu ponto de vista, não. Seria um erro e uma estratégia votada ao insucesso. Temos de deixar o mercado funcionar e, se os empreendedores, os proprietários, os imobiliários, os construtores conseguem vender casas a preços muitíssimo caros para as classes com maior poder económico, a atividade não deve ser prejudicada. O que devemos fazer é reconhecer que há uma falha no mercado. Há uma área onde, sem intervenção dos poderes públicos, haverá muitas pessoas excluídas e devemos fazer com que a Câmara se transforme num agente de promoção de habitação a custos acessíveis para as pessoas com menos recursos económicos, para os jovens e para as classes médias.
Como proprietária?
Em alguns casos proprietária, noutros casos arrendatária. As soluções são as mais variadas e nós devemos encontrar naquilo que é a propriedade fundiária que a Câmara do Porto tem, os rendimentos que o Porto tem, nomeadamente o rendimento que tem com o turismo. A taxa turística vai render, em 2025, um pouco mais de 30 milhões de euros. Devemos investir esses recursos, em alguns casos em promoção direta pela Câmara, noutros casos em articulação com cooperativas e ainda em parceria com o setor privado na promoção de habitação a custos acessíveis. A Câmara do Porto tem, direta ou indiretamente, em fases diferentes, já em construção, cerca de 1400 fogos que estarão previsivelmente prontos no próximo mandato. Mas a minha ambição é muito superior, concluir pelo menos cinco mil casas de habitação social ou a custos acessíveis. Estou a trabalhar muito ativamente com a academia, arquitetos, engenheiros, economistas, com o setor da promoção imobiliária e as empresas de construção, com as cooperativas, para criarmos um modelo portuense de custo acessível que seja fácil de compreender e que seja sustentável. Vai ser apresentado nas próximas semanas, porque para afirmar que vou ser capaz de concluir cinco mil casas no primeiro mandato, terei de explicar às pessoas.
O tema da segurança, ou da falta dela nas cidades, concretamente no Porto, também está ligado às políticas sociais e de ordenamento do território…
No caso do Porto, no essencial, as questões de segurança ou de sensação de insegurança estão mesmo muito ligadas aos temas da coesão social. Porque o maior problema, desse ponto de vista, na cidade do Porto, é o tráfico de droga e tudo o que está associado, que transformou algumas das zonas da cidade em sítios onde as pessoas não se sentem à vontade para viver. Não é que as pessoas tenham a sensação de que vão ser assassinadas, mas sentem que é desconfortável ir à rua, mandar os miúdos à rua sozinhos, até à piscina. Quero uma cidade onde todos se sintam seguros. No caso do Porto, precisamos de uma combinação que envolva o poder municipal e o Estado central. Precisamos da presença das forças de autoridade na rua, da repressão do tráfico. Mas sabemos que isto só é eficaz e só é aceitável se ao mesmo tempo houver um enorme braço de apoio social e de apoio de saúde aos toxicodependentes. Queremos combater a droga, não queremos combater os toxicodependentes. Houve momentos em que nós conseguimos fazer isto bem. Vejo a sala de consumo assistido da Pasteleira como um exemplo de sucesso, mas é evidente que precisa de um outro dimensionamento e uma estrutura de suporte à volta, porque senão ela própria, pela sua exiguidade, se transforma num local de conflito e de atração de fenómenos de insegurança. Devo dizer, e esta é mesmo uma novidade, que acho que a Polícia Municipal pode ter um papel diferente. Pode estar mais na rua e pode ser também um braço operacional que a Câmara oferece à criação de uma perceção de segurança na cidade.
A relação entre a Metro do Porto e a Câmara não tem sido boa. A Autarquia tem razão?
Precisamos de mais metro. A resposta para os problemas de circulação é mais transporte público. Os cidadãos, no século XXI, querem um transporte confortável, confiável, rápido e muito presente. Também precisamos de uma capacidade maior de a Câmara se relacionar com a empresa para gerir algo que será sempre uma chatice. Não há maneira de se fazer uma obra como a do metro sem causar perturbações às pessoas. Temos é obrigação de mitigar esses incómodos, o que exige um grande esforço de colaboração entre a Câmara e a Metro. É isso que vou procurar fazer, serei o porta-voz da exigência de mais metro. Precisamos que continue a crescer dentro do Porto. Eu ambiciono que a linha circular seja prolongada pelo Carvalhido e para a zona mais oriental do Porto, pelo meio da freguesia de Paranhos.
O investimento no metrobus é um falhanço? Preferia outra solução?
Aguardo ansiosamente para ver o metrobus em funcionamento. Dizem que será em maio. Se for assim, ainda será a tempo da campanha eleitoral. As obras foram conduzidas de uma forma muito intrusiva para a vida quotidiana dos cidadãos. Com franqueza, não sei se teria sido possível fazê-la com menos agressividade. Agora que o canal está criado, vamos ver se os estudos técnicos conduzidos por pessoas da Faculdade de Engenharia do Porto, que explicaram aquela necessidade, se justificam no quotidiano.
No caso de ser eleito, admite fazer voltar o Porto à Associação Nacional de Municípios?
Parece-me que a voz do Porto deve-se fazer ouvir em todos os fóruns do país.
Acha que o Porto tem perdido por não estar lá?
Acho que o Porto não tem ganho nada por não estar lá. O Porto ganha mais em fazer ouvir a sua voz, em fazer o seu magistério de influência em cada local. E há uma coisa que eu posso garantir, a voz do Porto é sempre muito ouvida. Quando falamos com um bocadinho de sotaque, como é o meu caso, acho que ainda se torna mais evidente.
E no caso do Conselho Metropolitano, tem havido um alheamento da Câmara do Porto…
Falar em alheamento é absolutamente excessivo, mas não tem havido um empenho suficiente.
A retirada dos camiões da VCI é uma bandeira que vai manter hasteada?
Tudo o que melhorar a VCI é bom. Mas é preciso olhar para os números dos estudos. Os estudos imaginam que a retirada dos camiões, por via de deixar de ser portajada a CREP, vai diminuir menos de 0,5% do tráfego da VCI. Portanto, é preciso perceber que essa medida, sendo positiva, é apenas uma entre outras que têm de ser tomadas. Em vez de ser uma coisa boa, que ajudava à fluidez de trânsito no Porto e na Área Metropolitana, a VCI está transformada noutro inferno. Só no troço que fica na cidade do Porto, ocorrem mais de 500 acidentes por ano. Isto é, mais de um acidente por dia em média. Nos dias úteis, dois acidentes por dia em média. E cada acidente na VCI é uma dor de cabeça para milhares de pessoas. Imaginem a perturbação que isto causa na vida quotidiana.
Teme ser penalizado pelos anos em que esteve na governação? As sondagens mostram uma certa aprovação do PSD…
As pessoas do Porto conhecem-me bem a todos os níveis e como alguém capaz de decidir. Também me conhecem bem como pessoa capaz de dialogar, capaz de ouvir, capaz de ter proximidade. O que tenho de sentido no contacto com as instituições e com as pessoas no Porto é uma grande aprovação. Serei capaz de honrar a enorme expectativa que as pessoas do Porto têm em mim, porque também acho que as pessoas reconhecem que mesmo na área da Saúde, que tem tantos problemas no país, o Porto é uma exceção. E para melhor.
Onde é que está Manuel Pizarro na dúvida do PS sobre o candidato ou os candidatos presidenciais?
Como se sabe, o Porto é uma nação. Estou a tratar do presidente da nação portuense e isso tem concentrado toda a minha atenção. Não há nenhuma dúvida no PS e acho que também não há, com franqueza, muitas dúvidas no conjunto da nação portuense. Espero vir a ter a honra de ser eleito pelos meus concidadãos, pelos tripeiros que me representam.