Marcelo Rebelo de Sousa deixou, esta segunda-feira, um recado implícito ao seu antecessor, transmitindo a ideia de que Cavaco Silva fala mais agora do que quando era presidente e prometendo fazer o inverso. Marcelo respondia a uma pergunta sobre as críticas do ex-chefe de Estado a António Costa e ao seu Governo.
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"Como dizia Sophia de Mello Breyner: vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar. Uma coisa é não ignorar, outra coisa é falar", reagiu, à RTP, o presidente da República. Mas deixou críticas implícitas, quando instado sobre se Cavaco deveria ter aquele tipo de intervenção. "Cada um é como é. Olhem para cinco presidentes em democracia, somos todos diferentes. Eu, por exemplo, tenho falado imenso enquanto presidente, tenciono não falar nada depois. Outros terão falado menos enquanto presidentes, falarão mais depois", reagiu Marcelo.
Já o líder do PSD, Luís Montenegro, defendeu que "ignorar aquilo que Cavaco Silva referiu é atuar no domínio do fanatismo" e de "um estado de negação preocupante". Acusou o Governo de viver "noutro país, noutra realidade". E disse ainda que acenar com "o papão da Direita" mostra que Costa "está mesmo nervoso".
Costa lamentou "crise política artificial"
O primeiro-ministro reduziu, esta segunda-feira, o mais recente ataque do "militante partidário" Cavaco Silva à tentativa da Direita de criar uma "crise política artificial". Dois meses após ter usado o palco do Parlamento para se defender das críticas do ex-presidente da República - e do atual - ao pacote de medidas para a habitação, António Costa volta a responder a Cavaco, que o convidou a demitir-se, acusando-o de sentir "frustração" por ter dado posse ao Governo da geringonça.
Cavaco Silva "desceu à terra" e "vestiu a t-shirt de militante partidário" para "animar a Direita na crise política artificial que pretende criar", reagiu o primeiro-ministro, após o antigo presidente o ter acusado de perder a autoridade num Governo especializado em "mentira e propaganda".
Porque "a economia felizmente está a dar a volta às grandes dificuldades que teve de enfrentar", Cavaco "foi alimentar o frenesim em que a Direita agora está no sentido de criar o mais rapidamente possível uma crise política artificial, de forma a não dar tempo a que os portugueses sintam os benefícios", reforçou Costa.
"Obrigações de militantes"
Quando a lista de ataques já vai longa, garantiu, em tom irónico, que a sua consideração por Cavaco "não foi ainda beliscada". "Percebo bem as obrigações que os militantes partidários por vezes têm de cumprir perante o próprio partido" e "achei só significativo que tenha sido ele a fazê-lo porque percebe bem a dinâmica em que está a nossa economia". E sabe que, "para haver crise política, tem de ser artificialmente criada e precipitada o mais rapidamente possível", reagiu Costa.
Atribuiu ainda as críticas de Cavaco ao facto de ter sido forçado a dar posse, em 2015, ao seu Governo apoiado pelo BE, pelo PCP e pelo PEV, após Pedro Passos Coelho ter sido derrubado, através de uma moção de rejeição.
"Percebo bem que alguém com muitos anos de militância, que teve a enorme frustração de concluir o seu mandato presidencial" dando posse a um Governo que "não desejava", tenha "ficado com essa mágoa", continuou Costa, notando que, "volta e meia, despe a sua função institucional e, na qualidade partidária, alimenta" a ideia de crise política.