"Há que não ter medo do papel das Comissões de Coordenação de Desenvolvimento Regional, da importância de concentrar aí, o mais rápido possível, poderes para haver uma visão mais ampla do que a visão de cada Município, ou visão mesmo das comunidades intermunicipais", disse este sábado, em Amarante, Marcelo Rebelo de Sousa à margem da sessão solene das celebrações do Centenário do Nascimento de Agustina Bessa Luís, que decorreu no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.
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O Presidente da República respondia assim ao pedido que, momentos antes, o presidente da Comissão de Coordenação Desenvolvimento da Região Norte (CCDR - N), António Cunha, fez para que "exerça a sua magistratura de influência na criação de condições políticas de consenso partidário para o avanço da reforma administrativa de um Estado que está fora do seu tempo". O responsável sublinhou o pedido a Marcelo com uma citação de Agustina Bessa Luís: "Sempre haverá afeto de camaradagem entre o Norte e o Sul do país".
Marcelo confrontado com o desafio do líder da CCDR-N disse ao JN que no início da legislatura puxou pelo assunto da descentralização que estava esquecido. "Há alguns passos que foram dados, mas há passos para dar", começou por referir. O presidente da República apontou, depois como prioritário, a descentralização no "domínio social". "É bom para o país. É um período único para se fazer isto. Há dinheiro europeu. Não voltaremos a ter tantos fundos europeus como agora". Ou seja, para Marcelo, perder neste momento a ocasião de "levar a descentralização e o papel das CCDR mais longe" é perder um tempo que pode não voltar mais. "Eu diria que não volta mais, e como é importante para o país e para as realidades das diferentes áreas regionais que se faça, eu espero que se venha a fazer", concluiu o assunto.
"Uma Mulher Política"
Sobre a homenageada a quem prestava tributo - Agustina Bessa Luís -, o presidente da República considerou-a "uma mulher política, no sentido de viver o que é ser-se político, na dimensão mais profunda do termo".
Marcelo lembrou que a escritora nascida em Vila Meã "vibrava" com aquilo que era o interesse nacional e da comunidade. "Essa sua independência, o seu amor a Portugal, essa sua ligação às raízes, é ser político para aquele tempo", referiu, acrescentando que o país precisava que "todas as mulheres e homens fossem mais positivos, no sentido de lutarem na sua vida, no dia-a-dia, para tornarem Portugal melhor".
Para o presidente da República, Agustina "era visceralmente portuguesa, sentia Portugal, não só naquilo que pensava, naquilo que era a sua maneira de ser, tinha raízes", sublinhou aos jornalistas.
Agustina Bessa-Luís nasceu em 1922, em Vila Meã, Amarante, e morreu a 3 de junho de 2019, no Porto.
O romance "A Sibila" (1954) é a sua grande obra, cujo currículo conta com títulos como "Vale Abraão" (1991), "As Terras do Risco" (1994) e "A Corte do Norte" (1987) que passaram dos livros para o cinema, sobretudo pelo amigo, Manoel de Oliveira.