O Presidente da República explicou, na sexta-feira, que Portugal está a tentar "normalizar" a resposta e apoio a Moçambique, alertando que "atuar num Estado estrangeiro" condiciona também o apoio aos portugueses, com quem foi difícil estabelecer comunicações.
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"Estamos a tentar normalizar a situação. Mesmo no que diz respeito aos portugueses, estamos a agir num país estrangeiro com as condicionantes de ter de refazer tudo, a começar nas comunicações. Poder-se-ia esperar outro tipo de resposta, mas está a atuar-se num Estado estrangeiro, que tem estruturas próprias, com organizações internacionais", esclareceu Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas no Porto.
O Presidente da República admitiu que teve vontade de viajar para Moçambique após a passagem do ciclone Idai e que tem falado sobre essa hipótese "com outros chefes de Estado de países da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa], mas o que resulta dos contactos com o Presidente moçambicano" é que "é prematuro" e, "nesta altura, em vez de ajudar, desajuda".
Por isso, acrescentou, "não é possível ao Presidente da República português de repente aparecer".
O chefe de Estado disse ainda compreender a dificuldade das pessoas, porque "de repente cai-lhes uma tragédia em cima e esperam um apoio imediato, mas não percebem como é difícil esse apoio imediato, sem comunicações, sem energia e num território estrangeiro".
O chefe de Estado salientou igualmente que Portugal tem dado "vários tipos de resposta", sendo a "primeira e mais imediata a militar, humanitária de proteção civil, com a rapidez possível"
"Chegar por avião militar demora praticamente um dia", notou.
Depois, disse, "era preciso canalizar o que vem de autarquias e instituições".
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, "são tantas as iniciativas que esta coordenação está a ser feita em cima da hora".
"Lá ainda é mais complicado, porque há uma instituição moçambicana responsável e várias organizações internacionais e temos de coordenar com elas", explicou.
Segundo o Presidente da República, "não pode Portugal sozinho começar a atuar sem cooperação e coordenação das organizações moçambicanas e internacionais".
Quanto aos portugueses em Moçambique, Marcelo Rebelo de Sousa indicou que, "até agora, felizmente", não existe "nenhum dado que permita falar em qualquer compatriota falecido"
"Temos estado a canalizar as nossas energias. Percebo o que vai na cabeça e coração de compatriotas que passaram e passam pelo que estão a passar. Estamos a tentar normalizar a situação", disse.
O balanço provisório da passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Maláui aumentou hoje para 603 mortos, com a confirmação de mais 51 vítimas mortais no lado moçambicano.
As autoridades de Maputo confirmaram já o registo de 293 mortos, 1.511 feridos e 344 mil pessoas afetadas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que está a preparar-se para enfrentar prováveis surtos de cólera e outras doenças infecciosas, bem como de sarampo, em extensas zonas do sudeste de África afetadas pelo ciclone Idai, em particular em Moçambique.
O ciclone afetou pelo menos 2,8 milhões de pessoas nos três países africanos e a área submersa em Moçambique é de cerca de 1.300 quilómetros quadrados, segundo estimativas de organizações internacionais.
A cidade da Beira, no centro litoral de Moçambique, foi uma das mais afetadas pelo ciclone, na noite de 14 de março.
Mais de uma semana depois da tempestade, milhares de pessoas continuam à espera de socorro em áreas atingidas por ventos superiores a 170 quilómetros por hora, chuvas fortes e cheias, que deixaram um rasto de destruição em cidades, aldeias e campos agrícolas.
Portugal é um dos países que enviaram técnicos e ajuda para Moçambique, com dois C-130 da Força Aérea e dois aviões comerciais fretados pelo Governo e pela Cruz Vermelha Portuguesa.