A eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques, do PS, defendeu que o presidente da República "fez o que devia" ao não abordar assuntos internos no discurso que proferiu, esta terça-feira, no Parlamento Europeu. Da Esquerda à Direita houve elogios às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, ainda que PCP e BE tenham lamentado a ausência de críticas aos defensores da austeridade.
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"Foi um excelente discurso sobre a Europa, virado para o futuro", afirmou Maria Manuel Leitão Marques, em Estrasburgo. A socialista sublinhou que, embora tenha falado "de forma simpática", o chefe de Estado não deixou de apontar alguns "problemas difíceis de resolver", como a transição climática ou a relação com países africanos, latino-americanos e asiáticos.
Questionada sobre se o facto de Marcelo não se ter debruçado sobre questões de política nacional teria sido "um favor" ao Governo, a eurodeputada rejeitou esta ideia: "Não vejo que tenha sido um favor. O presidente veio ao Parlamento Europeu e fez o que devia: falou sobre o futuro da Europa e sobre os problemas e desafios que temos de vencer. Era assim que todos nos devíamos comportar", frisou.
Paulo Rangel, do PSD, enalteceu o presidente pela "forma muito simples de tratar questões complexas", considerando que Portugal "pode estar orgulhoso, mais uma vez, do seu presidente". "Os meus colegas estrangeiros seguiram todos [o discurso] com imenso interesse", frisou, justificando essa situação com a "pedagogia" que Marcelo imprimiu a discurso.
O social-democrata considerou natural que o presidente não tenha criticado o Governo, uma vez que, em matéria internacional, "não há divergências" entre Belém e São Bento. No que toca à política interna o cenário é bem diferente, afirmou, acusando o Executivo de ser "o grande fator de instabilidade"e o "gerador de grande incerteza" no país - fenómeno que disse ser "raro" de ver em Governos.
BE viu críticas à extrema-direita
José Gusmão, do BE, reconheceu que o discurso teve "muitos aspetos positivos", salientando as advertências sobre a inflação e o apelo a uma Europa "aberta e pioneira no clima". Para o bloquista, estes temas "podem ser entendidos como uma crítica ao discurso e à ação da extrema-direita e de uma Direita tradicional cada vez mais extremada". Pela negativa, Gusmão lamentou que Marcelo tenha sido "muito vago" sobre os temas da governação económica.
João Pimenta Lopes, do PCP, considerou que o chefe de Estado "passou ao lado do problema das taxas de juro", questão que os comunistas levam a debate, esta quarta-feira, no Parlamento Europeu. No entender do deputado, também faltaram "alguns elementos" que traduzissem as "consequências" das políticas "que estão na base de problemas sérios", como a subida dos preços na habitação.
Nuno Melo, do CDS, classificou o discurso de Marcelo como "consensual", destacando o "compromisso" do presidente com a paz na Ucrânia e, também, a ideia de que a União Europeia deve apostar na tecnologia e nas políticas ambientais. Tal como Paulo Rangel, também o democrata-cristão disse compreender que o presidente não tenha abordado questões de política interna.