O presidente da República revelou, esta quarta-feira, ter ficado "melindrado" ao ler notícias que davam conta de que o primeiro-ministro se remeteu ao silêncio no Conselho de Estado por estar incomodado consigo. Marcelo Rebelo de Sousa salientou que o próprio António Costa já veio desmentir esses relatos.
Corpo do artigo
O chefe de Estado confirmou que António Costa não usou da palavra durante a reunião, ocorrida na terça-feira. Revelou que, antes do Conselho, lhe tinha perguntado se "tencionava usar da palavra". "Ele disse-me que não", relatou.
Sem mencionar Costa diretamente, Marcelo Rebelo de Sousa disse compreender que este não tenha gostado de ver, na praça pública, relatos de que teria tido um "amuo" no Conselho de Estado.
"Admito que haja quem se sinta ofendido porque aquilo que disse ou não disse foi mal interpretado", afirmou o presidente, em Lisboa. "Faz parte da democracia", acrescentou, assegurando: "O sr. primeiro-ministro, quando ficou silencioso, não foi por nenhuma querela com o presidente da República".
Marcelo reforçou que o próprio António Costa já veio "desmentir notícias de hoje segundo as quais o seu silêncio era contra o presidente da República". "Eu tinha lido essas notícias, tinha ficado estupefacto com elas, mas percebo que ele tenha esclarecido que não se tratava disso", disse.
Não é "plausível" que haja quem grave reuniões
Ao cabo de vários minutos, numa intervenção em que começou por dizer que não tinha nada a comentar sobre o Conselho de Estado, o presidente acabou por dizer que estranhou as notícias segundo as quais Costa não quis falar na reunião por se ter zangado com ele.
"Eu próprio, hoje, olhando para notícias de jornais, encontrei lá uma versão do silêncio do primeiro-ministro que foi desmentida pelo primeiro-ministro. O que significa que, mesmo em relação ao Conselho de ontem, foi possível haver notícias... que me melindraram, confesso, senti-me incomodado, como imaginam, por não corresponder à visão que eu tinha do que se tinha passado", frisou.
Questionado, Marcelo disse não considerar "plausível" que haja "quem grave" as reuniões do Conselho de Estado, para além dos serviços da Presidência. Dizendo que espera que os conselheiros exerçam os seus direitos "no quadro do que é expectável", admitiu que, se algum deles suscitar o tema da fuga de informação, levará o assunto a debate na próxima reunião do órgão.
Ainda assim, e apesar da polémica, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o Conselho de Estado de terça-feira "valeu a pena". Embora tenha recusado dar pormenores sobre a sessão, confirmou que se falou sobretudo sobre a situação nacional, mais do que da internacional.
Na reunião estiveram presentes 16 pessoas, incluindo o presidente da República. Destes, seis são membros do Conselho por inerência: Augusto Santos Silva, António Costa, Maria Lúcia Amaral (provedora de Justiça), José Manuel Bolieiro, António Ramalho Eanes e Aníbal Cavaco Silva.
A reunião contou ainda com a participação de António Lobo Xavier, Lídia Jorge, Luís Marques Mendes, Leonor Beleza (membros nomeados por Marcelo), Carlos César, Francisco Pinto Balsemão, Manuel Alegre, António Sampaio da Nóvoa e Miguel Cadilhe (eleitos pelo Parlamento). Estiveram ausentes António Damásio, Miguel Albuquerque e José João Abrantes.