O presidente da República afirmou, este sábado, no discurso do 10 de Junho, em Peso da Régua, que Portugal tem de "continuar a ter projeção no Mundo" e destacou ser necessário criar mais "riqueza com justiça" no país. Apesar do discurso motivador, Marcelo Rebelo de Sousa deixou recados e disse ser necessário "cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda". João Galamba foi vaiado na chegada ao local das cerimónias.
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"Não podemos desistir nunca de criar mais riqueza, igualdade e coesão", disse Marcelo Rebelo de Sousa, em Peso da Régua, na cerimónia oficial do 10 de Junho - Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Mesmo com palavras motivadoras, o chefe de Estado disse que Portugal, "dentro de portas, sempre teve problemas por resolver": "mais pobreza do que riqueza, mais razões para partir do que para ficar", assumindo ser preciso criar "riqueza com justiça" e "ter projeção no Mundo".
O presidente da República recordou as crises financeiras da História de Portugal - do século XIX ao XX - e alertou que a instabilidade económica, social e financeira não é um cenário do passado. "Tudo isto, às vezes, ainda é verdade", assumiu perante as figuras oficiais do Estado, como o primeiro-ministro, membros do Governo e o presidente da Assembleia da República, partidos da Oposição e centenas de populares, em Peso da Régua. Em alusão ao Estado Novo, falou das "eras" em que as "finanças estavam certas". "Mas, a liberdade, a saúde, a educação, a segurança social não existiam ou eram para um punhado de privilegiados".
"Este Douro que nos desafia todos os dias. Deste e de todos os Douros das nossas vidas. Pegarmos no impossível, tentarmos uma vez, cem vezes, mil vezes. Falharmos mais do que acertarmos, termos tantas mas tantas tentações de desistirmos. Mas, não desistirmos. [...] Plantarmos, semearmos, podarmos e cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda", disse o chefe de Estado, pedindo ao resto do país para olhar para o Douro como inspiração.
O discurso de ambição e motivador de Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de fora a atual realidade política nacional. Minutos antes, na chegada ao local das cerimónias do 10 de Junho, em Peso da Régua, o ministro das Infraestruturas foi vaiado pelos populares, que também gritaram "ganha vergonha", "vai embora" e "vai trabalhar".
A polémica de João Galamba e do seu ex-adjunto Frederico Pinheiro criou uma divergência pública entre o primeiro-ministro e o presidente da República. António Costa não aceitou o pedido de demissão do ministro das Infraestruturas, apesar de Marcelo Rebelo de Sousa ter assumido que esperava a saída de Galamba do Governo e discordava da decisão de Costa.
"Interiores tão importantes" quanto as capitais de distrito
O chefe de Estado afirmou que a celebração do 10 de Junho de 2023 "é diferente" da dos últimos anos. "É celebrado em Peso da Régua, cidade do interior que nunca foi capital de distrito ou cabeça de diocese". Depois de ter referido na sexta-feira que há "interiores esquecidos" em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a salientar o centralismo do país. "Queremos que os nossos interiores sejam tão importantes" quanto Lisboa, Porto, Setúbal, Aveiro, Coimbra e Viana de Castelo, deixando também uma referência aos municípios das ilhas dos Açores e da Madeira. "Iguais na lei, iguais na esperança do futuro", referiu.
Por vários momentos, Marcelo Rebelo de Sousa faz referência aos 19 municípios do Douro, destacando que a "união" que liga aqueles locais deve ser também o "retrato de Portugal". "O Douro é, em si próprio, História de Portugal, porque nele tivemos muitas das nossas raízes, porque foi, é e será sempre exemplo da bondade, persistência e determinação dos homens e das mulheres na luta diária perante uma Natureza única, mas avassaladora, inclemente, quase indomável".
Foi através do exemplo da vinha que o presidente da República apontou ser necessário investir no "crescimento e na justiça social", sendo que tal passa pelas exportações e pelo devido acolhimento dos "forasteiros". "Temos de receber os outros, como exigimos que nos recebam a nós", afirmou o chefe de Estado.
Manuel Pontes, um exemplo de solidariedade
O vinho do Douro, disse, "lembra a aliança histórica" entre Portugal e Inglaterra: "daqui a cinco dias, [a aliança] reunirá o rei acabado de coroar e o representante de todos os portugueses para invocar 650 anos de História, sem paralelo na Europa e, por ventura, no Mundo".
Sobre os portugueses lá fora, Marcelo Rebelo de Sousa salientou o caso de Manuel Ponte, português de 72 anos, que foi esfaqueado e baleado no ataque a um parque infantil em França, na passada quinta-feira. "Fez aquilo que aqueles com menos de 70 anos de idade não fizeram", disse. O emigrante terá tentado impedir a fuga do atacante, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros português.
Depois das cerimónias militares da parte da manhã, a celebração do 10 de Junho continua à tarde e à noite. O presidente da República vai visitar a exposição das Forças Armadas, no Cais da Régua, às 16.30 horas, e participa na cerimónia militar do arriar da bandeira nacional, às 19.30 horas, na Praça do Município.
Às 20 horas, Marcelo Rebelo de Sousa visita expositores de produtores de vinhos e produtos regionais, no auditório municipal do Peso da Régua. As comemorações terminam com um concerto no Jardim da Alameda dos Capitães, altura em que o chefe de Estado irá condecorar três bandas militares.