O presidente da República fez duras repreensões ao líder do PSD e ao presidente da Câmara de Lisboa, pedindo-lhes "bom senso" quando falarem de imigração. As críticas surgiram na sequência de declarações de Luís Montenegro e de Carlos Moedas, interpretadas por Marcelo Rebelo de Sousa como estando a defender limitações à imigração. O líder do PSD afirmou ter "a certeza" de que a mensagem não era para si; o autarca, mais incisivo, disse não aceitar "lições de ninguém".
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Sem referir nomes nem partidos, Marcelo fez uma referência ao Chega para recordar Montenegro de que "a cópia perde sempre para o original". Na segunda-feira, recorde-se, André Ventura tinha saudado a "aproximação de posições" com o PSD; esta terça-feira, questionado sobre se essa convergência existia, Montenegro respondeu apenas: "Não".
Marcelo insistiu que palavras "emocionais" ditas "em cima de casos" podem tornar-se "irracionais". Este reparo cai que nem uma luva na intervenção polémica do autarca lisboeta após o incêndio na Mouraria, que vitimou dois imigrantes que viviam em condições precárias.
"Quando se trata de um tema tão sensível, temos de ter muito bom senso", alertou o presidente. "Estamos a falar de pessoas - de pessoas que são vítimas, em muitos casos, de redes de utilização de seres humanos", vincou, frisando que as "deficiências" na integração dos imigrantes são responsabilidade do país.
Evitar disputar votos
"É facílimo ir atrás das emoções, mas há dois problemas", insistiu Marcelo. "Primeiro, a emoção muitas vezes não é racional; segundo, quem é mais emocional ganha sempre", alertou.
Para o presidente, a prioridade deve ser falar de imigração "com frieza", mais do que "andar a disputar votos a ver quem é mais emocional nessa matéria" - ou, conforme acrescentou, "mais populista".
Montenegro, que se encontrava num evento do PSD, em Lisboa, reagiu à intervenção de Marcelo ainda sem a ter ouvido. Contudo, disse que as palavras só poderiam ter outro destinatário: "Para mim não são de certeza", frisou, uma vez que o presidente é "sensato" e conhece os seus "valores". Sobre o Chega, atirou: "Se há alguma cópia, a cópia não é o PSD".
Moedas refutou os reparos do chefe de Estado. "Eu fui emigrante, sou casado com uma imigrante, o meu sogro é marroquino, a minha sogra é tunisina, por isso, há algo que gostaria de deixar muito claro: não aceito lições de ninguém nesta matéria". Segundo o autarca, o país precisa "de uma política de imigração digna".
Marcelo falou do tema dias após Montenegro ter dito que o país deveria atrair imigrantes que se adaptem facilmente. Ontem, o líder do PSD considerou "escandaloso" que lhe chamem xenófobo, dando a entender que processará quem, no seu partido, lhe fizer essa acusação.
Já Moedas defendeu, após o incêndio na Mouraria, que se fixem limites por setor à imigração. Também criticou a entrada de imigrantes sem contrato em Portugal.