Depois de ter sido saudado calorosamente por populares à saída da Câmara Municipal do Porto, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido de novo com muito entusiasmo no Bairro do Cerco do Porto.
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O presidente da República está, esta sexta-feira, no Porto, para a simbólica continuação das suas cerimónias de posse, uma cidade de "património histórico" e de "luta pela liberdade e rigor no trabalho". À saída da câmara, quebrou o protocolo e foi cumprimentar os populares que aguardavam a sua saída.
Marcelo Rebelo de Sousa recebeu e deu beijos e abraços e ouviu os populares a gritarem "Marcelo, Marcelo" e "força". A polícia teve dificuldade de fazer um cordão porque havia sempre gente a interpelá-lo, a querer cumprimentá-lo e a desejar-lhe "muita força".
O Presidente da República desceu do edifício da Câmara do Porto pela rampa do lado direito e percorreu toda a Praça até ao outro lado, sempre rodeado de pessoas. Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "o Porto é sempre muito caloroso".
Já da parte da tarde, repetiu-se o calor com que Marcelo foi recebido na cidade. No Bairro do Cerco, o presidente da República teve o seu primeiro banho de multidão. Mais uma vez, as autoridades tiveram alguma dificuldade em conter o ânimo dos populares que queria cumprimentar o presidente.
Marcelo assistiu ao concerto dos OUPA, um grupo de hip-hop do Cerco que nasceu de um projeto de integração social e subiu mesmo para o palco, onde acenou várias vezes à população.
"É a principal figura de Portugal e veio cá. Nunca cá veio nenhum", disse Luísa Santos, no Largo dos Afetos, onde ouviu chamarem-lhe "Presidente dos afetos".
Tal como já tinha feito na cerimónia de tomada de posse de Marcelo, Tino de Rans marcou presença no bairro do Cerco, para oferecer dois pares de sapatos ao presidente. É calçado "todo o terreno", disse, aos jornalistas, o antigo candidato à presidência.
Na Câmara do Porto, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido por Rui Moreira, e ambos entraram nos Paços do Concelho para os discursos de circunstância. Junto à Câmara do Porto, estavam centenas de populares, que aplaudiram o novo presidente da República.
"O Porto é, de algum modo, berço da liberdade e da democracia", disse o presidente da República nas suas primeiras palavras ditas no Porto após a investidura, lembrando que desta cidade vieram elites políticas, intelectuais e culturais.
No seu discurso, citando os escritores Sophia de Mello Breyner e Miguel Torga, Marcelo referiu características atribuídas às "gentes" do Porto, como "amor à liberdade, exemplo de trabalho e gosto de luta e de combate".
Apontando o Porto como uma cidade que "nunca cedeu ao desalento, ao pessimismo, ao derrotismo", o chefe de Estado afirmou ser "essencial" para todos "este sublinhado de virtudes, assumidos sem complexos e com desassombro".
Marcelo apelou ainda aos portuenses para que "jamais troquem a liberdade, o seu rigor no trabalho, os seus gestos de luta e de coragem por qualquer promessa de sebastianismo político ou económico".
"Aqui no Porto não é possível não acreditar em Portugal", concluiu.
Já Rui Moreira pediu ao Presidente da República que "lute contra a desigualdade e a injustiça" e defenda uma mudança de mentalidades para "um Portugal menos centralista".
"Com a sua voz e a sua autoridade, peço-lhe que lute contra a desigualdade e injustiça. Erga também a sua voz em defesa de um Portugal menos centralista, um Portugal que deixe enfim respirar os que querem ousar, arriscar, fazer mais e melhor. Estamos a falar de muito mais do que um centralismo de interesses. Estamos a falar de mentalidades e da sua necessária mudança", afirmou o autarca independente na receção formal ao novo PR.
"Ao longo do dia, irá sentir que esta cidade, liberal e aberta, tolerante e abrangente, está próxima de si. O Porto saberá sempre acolhê-lo e incitá-lo a continuar na jornada de todos unir", sublinhou.
Rui Moreira alertou ainda que Portugal "está mais assimétrico e, desgraçadamente, mais desigual", porque o país "são todos os portugueses, mas são ainda muito diferentes as condições em que vivem e aquilo a que podem aceder".
"Terminar no Porto as cerimónias de posse iniciadas em Lisboa é uma homenagem simbólica à cidade, ao seu passado, ao seu presente e ao seu futuro", justificou Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem exclusiva para os leitores do "Jornal de Notícias".
Marcelo Rebelo de Sousa visitou depois uma exposição sobre o vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, que morreu em novembro. "É uma homenagem excecional e muito justa porque é o retrato do homenageado, porque é uma evocação, porque tem a riqueza da vida dele na obra de muitos artistas que ele conheceu bem e o admiravam", vincou Marcelo Rebelo de Sousa.
Antes da visita à Galeria Municipal, e após um almoço privado que decorreu na Casa do Roseiral, o chefe de Estado deu um forte abraço ao historiador e jornalista do JN Germano Silva, nos jardins do Palácio de Cristal, afirmando ser "o homem que melhor escreve sobre o Porto".