Presidente admite estar a dar "mais tempo" ao Governo e nega planos para dissolver Parlamento. Maria do Céu terá sido informada do arresto das contas de Carla Alves, por si convidada. Ana Gomes e Paulo Pedroso apontam "excesso de confiança" de Costa com maioria absoluta.
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O presidente da República garantiu ontem que não pensa dissolver o Parlamento e que até está a dar "mais tempo" para que o Governo estabilize e execute os fundos europeus. Um dia depois de ter precipitado a demissão de Carla Alves, secretária de Estado da Agricultura, Marcelo Rebelo de Sousa considerou a situação "ultrapassada", pelo que não pediu a saída da ministra da tutela, Maria do Céu Antunes. Esta terá sido previamente informada do arresto das contas de Carla Alves, mas continua a merecer a confiança política do primeiro-ministro. Ainda assim, a Oposição aperta-lhe o cerco e até no PS há quem defenda a sua saída.
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Com o país atónito com tanta instabilidade e convencido de que Marcelo poderá fazer cair o Governo dentro de um ano - na mensagem de Ano Novo, avisou Costa de que o desempenho em 2023 será "decisivo" -, o chefe de Estado veio negar ter feito qualquer "ultimato". "Porque é que não veem de outra maneira? O presidente deu mais tempo para o Governo preencher objetivos fundamentais", afirmou, falando dos fundos europeus e da "estabilização política".
"Agora, o fundamental é que o Governo governe bem", avisou Marcelo. Sobre Carla Alves, considerou que a demissão tornou a questão "ultrapassada", repetindo essa palavra quando questionado sobre se a ministra da Agricultura também deveria sair do Governo.
Costa mantém confiança
Na sexta-feira, PSD, Chega, IL e PAN pediram a audição parlamentar da ministra da Agricultura, depois de ter sido noticiado que Carla Alves a teria informado sobre o arresto das contas (devido ao envolvimento do marido num processo). A escolha terá causado incómodo no gabinete. O ministério garantiu que Maria do Céu Antunes desconhecia "qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais".
Questionado sobre se mantinha a confiança política na ministra, António Costa respondeu com um lacónico "sim". Um dia antes, recorde-se, tinha defendido Carla Alves no debate da moção de censura, vendo esta demitir-se logo depois, na sequência da pressão de Marcelo.
Ao JN, Ana Gomes, antiga eurodeputada do PS, considerou que a ministra da Agricultura "não tem condições para continuar" no Governo, sobretudo após o comunicado do ministério. "Não há arrestos de contas bancárias sem processos judiciais. A senhora ministra sabe disso, é elementar", sublinhou.
Paulo Pedroso, antigo ministro socialista, concorda. No seu entender, e confirmando-se que sabia do arresto, a ministra mostrou falta de "discernimento para perceber que estava a fragilizar o Governo de modo gratuito" ao manter o convite. Considera que será "mais fácil" para Costa dar a volta por cima se a substituir.
Ana Gomes vê "com muita preocupação" a situação do Governo. "Descredibiliza não só o Executivo mas, também, as instituições políticas. Nessa medida, faz o jogo da extrema-direita", considera. Diz haver "sérios riscos" de que Marcelo venha a dissolver o Parlamento, sobretudo se Costa continuar "displicente" e "não arrepiar caminho".
Paulo Pedroso explica a onda de demissões (já são 13) com o "excesso de confiança" dado pela maioria absoluta. Argumenta que, ao considerar que o Executivo está "deslocado da realidade", Marcelo entra no campo do "subjetivo", ganhando margem para, no futuro, convocar eleições antecipadas. "Até 1 de janeiro não temia esse cenário, mas hoje temo", conclui.
Polémicas da ministra
Críticas à CAP - "Porque pediram para não votar PS?"
No verão passado, ao responder a críticas que a Confederação de Agricultores (CAP) fez ao Governo devido à resposta à seca, a ministra da Agricultura atirou: "É melhor perguntar porque é que, na campanha eleitoral, a CAP aconselhou os eleitores a não votar no PS".
Pandemia covid "pode ser boa" para as exportações
No início de 2020, quando ainda não havia registo de casos de covid-19 no país, Maria do Céu Antunes afirmou que a pandemia poderia ter "consequências bastante positivas" para as exportações portuguesas.
Adjudicação - "Deu" 60 mil euros por árvores de governante
Em 2013, enquanto autarca de Abrantes, fez uma adjudicação de 60 mil euros, por 30 oliveiras centenárias, à empresa da família do agora secretário de Estado das Florestas, João Paulo Catarino.
Falência - Mandato em Abrantes marcado por disputa
Os seus tempos de autarca ficaram marcados pela falência de um empresário local devido à disputa de um terreno com a Câmara.