Marcelo sobre guerra na Ucrânia: "Estamos solidários, mas não estamos belicistas"
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou esta quarta-feira que os membros da União Europeia e da NATO estão solidários, mas não belicistas, a propósito da incursão de drones denunciada pela Polónia.
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"Estamos solidários, mas não estamos belicistas", afirmou o chefe de Estado, em resposta aos jornalistas, à saída da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.
Interrogado sobre se teme um escalar da violência, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que espera que não e defendeu que nesta altura o comportamento correto é "unidade europeia, unidade na NATO e uma solidariedade permanente de todos os membros com todos os membros".
"Mais do que isso, naturalmente, não se pode fazer, porque depende muito daquilo que houver da parte de outros. Não há nenhuma iniciativa ofensiva da parte nem da NATO, nem de membros da NATO, nem da União Europeia. E, portanto, estamos solidários, mas não estamos belicistas", acrescentou.
Segundo o presidente da República, "é preciso que as opiniões públicas tenham a noção exata de que este momento é um momento decisivo".
Numa alusão à Rússia, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou: "Se aquele que provocou o problema na Ucrânia e provocou porventura este clima que vivemos de crispação perceber que, da nossa parte, há uma capacidade de afirmação, de unidade, de solidariedade, pensa duas vezes, e talvez seja possível aí ultrapassar este momento, que é o que nós desejamos todos".
"Nós desejamos não é nem a guerra nem a tensão, mas temos a noção de que para isso é preciso mostrar a força da unidade e da solidariedade", reforçou.
Quanto a sanções, o chefe de Estado referiu que "isso aí, sanções, já estão aprovadas ou preparadas para aprovação".
As autoridades da Polónia denunciaram hoje uma incursão de drones russos no seu espaço aéreo e pediram uma consulta urgente dos aliados da NATO, invocando o artigo 4.º do Tratado do Atlântico Norte.
O artigo 4.º prevê consultas entre as partes sempre que um dos Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) considere estar ameaçada a sua integridade territorial, independência política ou segurança.
Europa tem de "decidir e fazer"
Na Universidade Católica Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa participou hoje numa conferência de homenagem ao economista e antigo ministro das Finanças Ernâni Lopes, que morreu em 2010, aos 68 anos, e a quem atribuiu, postumamente, uma condecoração com a Ordem de Camões.
Nessa conferência, discursou também o antigo presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso, que preside ao Centro de Estudos Europeus da Universidade Católica Portuguesa.
A meio da sua intervenção, Durão Barroso falou brevemente dos desafios atuais da União Europeia e considerou que "a Europa vive um momento de escolhas essenciais" em que tem de "decidir e fazer".
"A Europa apaga-se se continuar com anúncios nem sempre seguidos de resultados, se a Europa continuar dependente dos outros, mantendo-se como adolescente geopolítico em vez de assumir-se como adulto responsável capaz de assegurar a sua própria defesa", declarou.
Segundo o antigo presidente da Comissão Europeia, a União Europeia tem de "reconhecer que o mundo fundamentalmente mudou", que "a Europa já não está no centro desse mundo", e que está em curso "uma grande revolução científica e tecnológica".
"Há o perigo de perdermos posição nomeadamente a outros como sejam os Estados Unidos da América e a própria China", advertiu.
Durão Barroso defendeu ainda que a União Europeia não pode "continuar a resistir à necessidade de completar o seu mercado interno" nem "continuar a ceder ao nacionalismo económico de alguns dos seus Estados-membros, incluindo alguns dos maiores dos Estados-membros".