Presidente propõe a criação de uma estrutura de acompanhamento ao flagelo social no terreno. Rede Europeia fixa em 2030 meta para a erradicação.
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O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sugeriu ontem, na sessão do encerramento do congresso nacional da Rede Europeia Anti-Pobreza Portugal que, à semelhança do que já acontece com os sem-abrigo, seja criada uma comissão para a pobreza. "Haverá uma estrutura para acompanhar a situação no terreno e sobretudo as medidas urgentíssimas no combate à pobreza", afirmou. Portugal tem até 2030 para pôr em prática a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, meta que nem todos acreditam ser possível concretizar.
Durante a sua intervenção no seminário "O papel da economia no combate à pobreza", que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o presidente da República disse que para se concretizar "o plano de ação" da Estratégia de Combate à Pobreza, recentemente aprovada, "é preciso que a orgânica global entre rapidamente no terreno". O chefe de Estado considerou que deve haver alguém "que venha a liderar o plano de ação", um comissário ou "chame-se o que se chamar", para se "evitar os dramas do interministerial, que é precisamente ser de todos e não ser de ninguém".
"Um desafio enorme"
"O problema da pobreza é muito mais vasto, tem de se encontrar fórmulas na parte executiva muito eficazes. É bom haver uma componente técnica forte", defendeu. Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu ainda que temos "um desafio enorme" pela frente para erradicar a pobreza até 2030, não se mostrando confiante com a concretização deste objetivo. "Estamos a metade de 2022, significa que estamos a meia dúzia de anos. É impressionante a falta de tempo que temos para a envergadura da tarefa", disse, acrescentando que o flagelo social que afeta "milhões de portugueses" agravou-se "com a pandemia e a guerra na Ucrânia".
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza Portugal, Jardim Moreira, também defende que os reptos são "enormes". "É um trabalho que nunca se fez e que exige uma mudança de mentalidade, postura política e de consensos de muitos intervenientes que certamente não pensam da mesma maneira", considerou ao JN Jardim Moreira, que vai entregar um documento ao Governo com recomendações para a erradicação da pobreza.
Na mesa-redonda, que encerrou o seminário "O papel da economia no combate à pobreza", a economista Susana Peralta disse mesmo que "não vamos conseguir um objetivo que não é conseguível, porque pela forma como a pobreza é medida na União Europeia é impossível acabar com ela".