Há mais de dez anos que, pontualmente, Mariana Castro Moura, de 46 anos, ajudava as pessoas em situação de sem-abrigo, no Porto, mas foi a pandemia que a fez sair para a rua numa altura em que o país estava fechado em casa. Com um trólei de compras, cheio de mantimentos, começou a distribuir comida a quem dorme nos bancos de jardim, em tendas e em locais problemáticos em termos de segurança devido ao tráfico de droga.
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Quando a pandemia chegou, Mariana Castro Moura não teve medo do vírus e a primeira coisa em que pensou foi em intervir. Desta forma, fez agora dois anos, nasceram os "Caminhos de amor" de apoio aos mais desfavorecidos.
"Inicialmente, comecei a ir para a rua dar de comer às pessoas de domingo a domingo. Assim que abriram gradualmente as coisas, comecei a espaçar e a sair só de segunda a sexta", conta Mariana. O que a motivou? "Sou assim por natureza, gosto de auxiliar as pessoas e isto acabou por ser o culminar de algo que sempre quis fazer, mas não conseguia porque estava ali presa na loja, não tinha tempo. Se calhar, tinha, mas pensava que, não porque agora tenho tempo para tudo", acrescenta.
Este espírito de ajudar os outros já vem de família. Os bisavós auxiliavam os pobres. Faziam-se filas à porta de casa, na Rua da Preciosa, para receberem um prato de sopa, feita pela bisavó, e um pão. A mãe de Mariana seguiu as pisadas. "Deve ser genético", diz, a brincar.
Roupas e calçado uma vez por mês
Na rotunda da Boavista o senhor Armandinho espera pelo seu kit no banco de jardim. Chega depois o romeno Dragos e à sombra de uma árvore está o senhor Joaquim. Mariana faz a ronda sozinha e apenas uma vez por mês conta com a ajuda de voluntários porque são distribuídas roupas e calçado.
Começa na rotunda, segue para o Mercado do Bom Sucesso, por Júlio Dinis, volta à rotunda e desce a Avenida da Boavista até António Cardoso, passa ao Campo Alegre, Lordelo e termina nos bairros de Pinheiro Torres e da Pasteleira.
A comida vem de doações, de pessoas que são amigas da página na Internet, de patrocínios de algumas empresas e da angariação feita junto de alunos de alguns colégios. "Graças a Deus estou mais ou menos estável. Depois, em termos de dinheiro, há pessoas que se tornam membros da associação e dão um valor mensal ou fazem algumas transferências pontuais", explica.
Cada kit tem um sumo, uma peça de fruta, um queque, um pacote de bolachas, três caramelos de fruta, três chocolates, uma sandes e uma garrafa de água.