Marcelo teme que BCE volte a subir juros e diz que isso "não é uma boa notícia"
O presidente da República receia que a inflação na União Europeia (UE), que se mantém "relativamente alta", leve o Banco Central Europeu (BCE) a ceder à "pressão" de continuar a aumentar os juros. Marcelo Rebelo de Sousa avisou que, a confirmar-se, essa "não é uma boa notícia" para quem está a pagar a casa ao banco.
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"Comparativamente, a nossa situação é muito melhor do que a da média europeia", afirmou o chefe de Estado, esta quinta-feira, em Lisboa. Dito isto, deixou um alerta: se a inflação na União Europeia (UE) não baixar, "qual é o resultado que temo? É que o BCE possa ter a pressão para novo aumento de juros. E nós esperávamos uma folga agora em setembro", lamentou.
Marcelo frisou que, embora a inflação em Portugal seja inferior à média da UE - 3,7%, contra 5,3%, conforme frisou -, o país poderá ser arrastado para uma solução que não lhe é benéfica: "A nossa inflação é melhor do que a externa, mas a inflação externa pode provocar a continuação da política de juros altos do BCE", alertou.
Questionado, Marcelo considerou que a escalada dos juros se prende com "alguma incerteza política europeia", dando como exemplo as eleições em Espanha e na Holanda, além do aproximar das europeias e da ida às urnas nos EUA. Essa realidade, somada ao preço dos combustiveis, explica o "compasso de espera" do BCE, referiu.
Recorde-se que a presidente do BCE, Christine Lagarde, tem avisado que as taxas de juro não irão descer até que a inflação baixe.
"Não é uma boa notícia" para quem está a pagar casa
O presidente da República defendeu que a hipótese de os juros continuarem a aumentar "não é uma boa notícia" para os cerca de 1,2 milhões de portugueses que, em consequência disso, veem as prestações do crédito à habitação "mês após mês a subir".
Ainda assim, evitou responder se, no seu entender, devem existir novos limites ao aumento das rendas, alegando que essa decisão deve depender "de uma análise muito cuidadosa da evolução da inflação" nos próximos meses.
O diagnóstico pessimista feito pelo presidente sustenta-se igualmente no facto de, segundo os números, a economia portuguesa não ter crescido durante o segundo trimestre. E, uma vez que algumas "economias importantes" da UE atravessam, atualmente, uma situação "bem pior do que a portuguesa", o chefe de Estado teme que os próximos meses e o arranque de 2024 possam "não ser o que desejaríamos".
A somar a essa previsão, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou ainda que, segundo estimativas feitas em várias feiras de turismo da Europa, o turismo económica terá uma evolução "desfavorável". Como tal, também em Portugal essa atividade económica "pode não subir ao ritmo a que estava a subir", vincou.
Em consequência, o presidente da República sustentou que o Orçamento do Estado para 2024 poderá ter "uma folga" cujo objetivo seria "compensar o que pode não chegar" a nível de retorno das exportações e turismo.