Marinho Pinto considera "exagerada" referência de Carlos Cruz a tribunais plenários
Carlos Cruz, arguido no processo Casa Pia, exagerou ao comparar o julgamento que o condenou a sete anos de prisão aos tribunais plenários anteriores ao 25 de Abril, considerou Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados.
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Intervindo na noite de sexta-feira na tertúlia "125 minutos com...", no Casino da Figueira da Foz, Marinho Pinto disse que apesar do apresentador de televisão não ter razões para estar satisfeito com a sentença, "tem todas as garantias para recorrer" para outras instâncias judiciais.
"Mas não deve exagerar nas comparações, porque o que se passava nos tribunais plenários do Estado Novo eram ignomínias monstruosas", sublinhou.
"Não tem comparação. Ele pode discordar da sentença e, provavelmente, a sentença até pode ser injusta para ele, mas tem todas as garantias para recorrer e obter um escrutínio dessa sentença por outros tribunais", acrescentou.
Ainda segundo Marinho Pinto, o que se passava nos tribunais plenários antes do 25 de Abril "era coisa completamente diferente".
"Eram pessoas levadas lá, com sinais óbvios de tortura, torturadas dias e dias, noites e noites, espancadas (...). E juízes facínoras, piores que os próprios agentes da PIDE (...). Era coisa completamente diferente, isso [a afirmação de Carlos Cruz] é um exagero", reafirmou.
Carlos Cruz disse na sexta-feira, em conferência de imprensa, que foi condenado em tribunal sem a existência de provas e qualificou como "preconceito" o julgamento que durou quase seis anos.
"Há muito tempo que este processo deixou de ser o 'processo Casa Pia' para ser o 'processo Carlos Cruz'", criticou o apresentador de televisão, que apontou diversas falhas ao procedimento judicial, nomeadamente a não audição de pessoas relacionadas com os alegados acontecimentos.
"Vêm-me à memória os tribunais plenários, anteriores ao 25 de Abril", comparou, afirmando que, a partir do momento em que foram dados como provados crimes que não cometeu, "ser condenado a sete, 14 ou 20 anos de prisão" é-lhe "indiferente".
Durante a tertúlia Marinho Pinto também criticou as declarações públicas de advogados do processo, no exterior do tribunal, após a leitura do acórdão.
"A função do advogado é pressionar o juiz dentro do processo, toda a minha função é pressionar juízes para decidirem de acordo com os interesses que eu patrocino. (...) Cá fora um advogado não deve falar sobre os processos que patrocina, o estatuto [da Ordem dos Advogados] não o permite", argumentou.
