Mário Macedo concorre a bastonário da Ordem dos Enfermeiros contra Luís Barreira
Mário Macedo, 39 anos, enfermeiro especialista em Saúde Infantil e Pediátrica, anunciou, este sábado, a candidatura a bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OE), durante uma tertúlia do Movimento Enfermeiros Unidos, em Leiria.
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Neste momento, existem dois candidatos ao cargo, já que Luís Filipe Barreira, vice-presidente da OE, também vai concorrer ao lugar de Ana Rita Cavaco, que termina o mandato em novembro.
As primeiras reuniões com outros profissionais da classe começaram em março de 2022 e foram “subindo de intensidade” com o passar do tempo, pelo que escolheram o Dia Internacional do Enfermeiro, assinalado a 12 de maio, para dar a conhecer a existência do Movimento Enfermeiros Unidos. “Conhecemos muitas pessoas, problemas e realidades muito diferentes, e discutimos soluções”, explica ao JN Mário Macedo.
Ao constatar o descontentamento generalizado das mais de 1500 pessoas que participaram nestes encontros presenciais e online, por não se sentirem representados pela equipa à frente da OE, ficou acordado apresentar uma lista alternativa. “A OE está desligada dos enfermeiros, que não sentem apoio da sua parte”, assegura o novo candidato.
“O mandato da atual OE não foi positivo e o que nos entristece é que a maioria dos problemas já estava identificada em 2015”, sublinha Mário Macedo, em alusão ao início do primeiro mandato da equipa a que pertence Luís Filipe Barreira e liderada por Ana Rita Cavaco, que atingiu o limite de mandatos.
Embora prefira não tecer comentários às polémicas em que a atual bastonária esteve envolvida e que deram origem a processos judiciais, o candidato anunciado hoje admite que “a imagem da OE foi claramente prejudicada”. “Mas há a presunção da inocência, pelo que vamos deixar isso para a justiça.”
Mais responsabilidade
Empenhado em “contribuir para a mudança do paradigma da prestação de cuidados de saúde em Portugal”, Mário Macedo destaca o facto de os enfermeiros portugueses serem dos “mais bem-formados e mais competentes na Europa”, mas lhes sejam atribuídas menos responsabilidades e competências. “Tem de haver uma redefinição dos papéis em saúde. A intervenção deve ser feita pela pessoa mais capaz.”
“Temos casos de enfermeiros especialistas em saúde materna, mas formalmente a responsabilidade é dos médicos”, exemplifica o novo candidato. “Assim que a OCDE disse que a responsabilidade é nossa, fomos alvo de um ataque corporativo da Ordem dos Médicos, que é contra todo este tipo de avanços, quando é apenas uma questão de passar a formal o que já acontece informalmente.”
Mário Macedo lamenta que a classe, além de não ter voz, seja impedida de exercer funções de coordenação em várias áreas da saúde. “Traduz-se num nível de corporativismo que faz mal à saúde”, lamenta. “Um enfermeiro não é melhor nem pior gestor do que um médico. Queremos que seja avaliado em pé de igualdade, porque é um dos caminhos para um melhor do SNS.”
Aulas em universidades
O segundo candidato a apresentar-se a eleições a bastonário da OE, estabelece ainda como metas conseguir que os enfermeiros possam dar aulas em universidades, e não apenas em politécnicos, e a universalidade das carreiras, uma vez que psicólogos, nutricionistas, médicos e farmacêuticos iniciam a profissão com grau de mestre, enquanto aos enfermeiros é exigida apenas licenciatura. “Isto atrasa a nossa evolução como profissionais e impede a obtenção de salários mais elevados.”
Após as eleições, que decorrerão na primeira quinzena de novembro, Mário Macedo diz que, independentemente dos resultados, o Movimento Enfermeiros Unidos não pode deixar de existir. “Não temos hierarquias, chefes, nem admissão formal”, adianta. “É muito giro ouvir um enfermeiro reformado e um enfermeiro novo a trocarem ideias, nos fóruns e eventos online e presenciais, independentemente de serem do litoral ou do interior, do público ou do privado”, garante.
A lista de Mário Macedo será elaborada durante o verão. “Temos 95% dos lugares livres. Há muita gente connosco e interessada em participar”, assegura. “O nosso compromisso com a democracia é inabalável”, sublinha. Natural de Lisboa, o candidato tem um mestrado em Saúde Pública, uma pós-graduação em Gestão e Inovação em Saúde e está a terminar o curso de especialização em Administração Hospitalar.
Atualmente, trabalha na Urgência Pediátrica do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, onde também coordena a Unidade de Epidemiologia e Saúde Pública hospitalar. Dirigente sindical entre 2015 e 2019, é deputado municipal no Seixal, e foi premiado em várias ocasiões pelos seus trabalhos e comunicações científicas, ao longo da sua carreira.