Mau tempo destruiu casas e carros, arrancou telhados, fez cair árvores e ainda virou avionetas.
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Seis feridos, 15 desalojados, árvores caídas, telhados arrancados, carros desfeitos e avionetas de rodas para o ar. Estes foram alguns dos efeitos mais visíveis da passagem da depressão Martinho, por Portugal continental durante a madrugada de ontem. O mau tempo veio com a primavera e só deverá abrandar no final da semana, sendo que nos próximos dias a situação irá melhorar no Sul mas piorar no Norte, estando vários distritos sob aviso amarelo devido à possibilidade de chuvas e ventos fortes.
Durante a noite de quarta-feira e madrugada de ontem, a Proteção Civil registou cerca de 7000 ocorrências devido à chuva e ao vento em todo o território mas, sobretudo no Sul e na zona da Grande Lisboa, onde o mau tempo provocou seis feridos, um deles em estado grave. Anteontem, uma mulher de 30 anos ficou ferida após ter sido atingida por uma árvore na Lagoa Azul, em Sintra, quando andava a caminhar, encontrando-se ontem ainda internada com “prognóstico muito reservado”.
Foram dezenas as árvores que caíram, tendo destruído vários automóveis e obstruído a via pública. Durante o dia de ontem, várias estradas estiveram cortadas e a circulação dos comboios também foi afetada, sobretudo na Linha de Cascais. Um dos maquinistas da CP - Comboios de Portugal ficou ferido quando o comboio embateu numa árvore caída na zona de Paço de Arcos. Em Tires, o vento forte que se fez sentir fez virar aeronaves que estavam estacionadas no Aeródromo Municipal de Cascais.
Os incidentes levaram, ainda, ao encerramento de escolas. No concelho de Pombal, em Leiria, quatro escolas fecharam devido à falta de eletricidade. Na manhã de ontem, cerca de 82 mil clientes da E-Redes acordaram com grandes constrangimentos na rede elétrica, sobretudo nos distritos de Leiria, Coimbra e Viana do Castelo. E, ao início da tarde, 18 mil clientes continuavam ainda sem energia.
O vento e a chuva, que colocaram vários distritos sob aviso laranja, deixaram 15 pessoas desalojadas e 12 tiveram que ser deslocadas. Em Palmela, o mau tempo obrigou dezenas de pessoas a abandonar as suas residências do parque de campismo no Pinhal Novo durante a noite e a concentrarem-se num café devido ao risco de queda de árvores.
Lourinhã: treze pessoas desalojadas
Na Lourinhã, várias habitações do bairro social de Miragaia ficaram sem telhado e com o sistema de aquecimento de água danificado, o que levou 13 pessoas a ficarem desalojadas. Um dos moradores, que disse parecer ter “passado o Diabo por ali”, foi realojado em casa de familiares, enquanto os restantes ficaram abrigados na Pousada da Juventude da Praia da Areia Branca.
Durante a tempestade, os moradores saíram à rua, sob ventos fortes, para retirar os automóveis dos locais onde estavam estacionados, de modo a evitar que estes ficassem danificados com as chapas das coberturas que se soltavam e voavam. As habitações sofreram obras há cerca de dois anos e, segundo os moradores, as coberturas constituídas por “painéis sandwich” ficaram mal instaladas e pouco seguras. A reposição dos estragos é a maior preocupação dos habitantes do bairro, sendo que as casas são propriedade do município.
Lourosa: vento destrói campas e jazigos
Em Lourosa, no concelho de Santa Maria da Feira, o mau tempo destruiu cerca de 30 campas e jazigos do cemitério local. Após o vento ter provocado a queda de um dos muros do estádio do Lusitânia de Lourosa, este caiu sobre o muro de separação do cemitério, destruindo as sepulturas, o que, segundo o presidente da junta de freguesia, Armando Teixeira, causou um prejuízo “muito elevado”.
De acordo com o autarca, os ventos fortes terão afetado a estrutura dos outdoors publicitários do estádio, que provocaram a queda do primeiro muro.
Durante o dia de ontem, os meios da junta de freguesia, da Proteção Civil e da Câmara Municipal estiveram no local a trabalhar de forma a minimizar os efeitos deste incidente. “Trata-se de uma situação muito sensível, que estamos a tratar com todo o cuidado”, afirmou o presidente.
Vila do Conde: voa cobertura da bancada do Rio Ave
Em Vila do Conde, o vento destruiu grande parte da cobertura da bancada central do Estádio do Rio Ave F.C., sendo que os danos atingiram ainda a tribuna presidencial e a zona destinada à comunicação social. O incidente aconteceu cerca das três da madrugada e demorou apenas alguns segundos: uma rajada de vento mais forte destruiu a cobertura da bancada e espalhou os vários painéis pelo parque de estacionamento do estádio. Ontem, dezenas de funcionários estiveram no local a remover destroços e a proceder à limpeza, sendo que o clube está, agora, a avaliar “a extensão dos danos causados”. Sendo esta a única bancada é possível que o estádio possa não estar pronto a tempo de receber o Boavista, no dia 7 de Abril.
Também a cobertura da bancada do Estádio de Santo António, da Associação Desportiva Nogueirense, no concelho de Oliveira do Hospital, voou e atingiu alguns carros de jogadores. Tudo aconteceu ao início da noite de anteontem, tendo o vento levantado “completamente a cobertura central da bancada”, o que causou um prejuízo de milhares de euros, segundo o presidente da Associação.
Mais de 800 mil pessoas desalojadas
Mais de 800 mil pessoas, do Mundo inteiro, ficaram sem casa devido a catástrofes naturais em 2024, avançou, ontem, o jornal britânico “The Guardian”. Segundo o relatório da Organização Mundial da Meteorologia das Nações Unidas, este é o maior registo desde 2008. No último ano, houve cerca de 150 tempestades, entre incêndios, ciclones e inundações.
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Algarve
O Comando da Proteção Civil do Algarve contou 166 ocorrências, que afetaram quase todos os concelhos da região, tendo-se registado, entre outras situações, o aluimento do telheiro de um supermercado em Lagos.
Aveiro
Uma janela do altar da Igreja da Misericórdia de Aveiro caiu com a força do vento, provocando estragos que podem ultrapassar os 10 mil euros.
Alentejo
A tempestade provocou danos em culturas e em estufas no Oeste e no Alentejo.