As pessoas mais pobres são as mais atingidas pela covid-19, de três maneiras: são quem mais perde rendimentos, quem mais tem de sair de casa para trabalhar e quem tem mais dificuldade em comprar máscaras.
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O novo estudo da Escola de Saúde Pública foi apresentado no Infarmed, na reunião entre epidemiologistas e decisores políticos que precede a segunda fase de desconfinamento, na segunda-feira.
O inquérito da escola dirigida por Carla Nunes conclui que 60% dos portugueses têm dificuldade em comprar máscaras e, entre os que ganham até 650€, metade diz que são demasiado caras. Estas são também as pessoas com menor instrução e que menos têm acesso ao teletrabalho: 54% têm de se deslocar para o local de trabalho. Olhando para a instrução, o fosso agrava-se: 76% dos que estudaram até ao 9.º ano não podem ganhar a vida em teletrabalho.
Os mais pobres são, por isso, os mais expostos à doença e também os que mais perderam rendimentos: duas em cada três pessoas a ganhar até 650€ perderam rendimentos, no todo ou em parte. Entre a primeira semana em que este inquérito se realizou e agora, o número de pessoas que diz ganhar abaixo deste limiar triplicou.
Cedo para saber impacto
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A forma desigual como a crise está a afetar os portugueses tem sido um argumento usado pela oposição para pedir mais apoio e a reabertura da economia. Na reunião de quinta-feira, a opinião dos peritos sobre a evolução da pandemia foi interpretada por João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio, como uma "luz verde" ao plano do Governo, que deverá ser formalizado no Conselho de Ministros desta sexta-feira: abrir todo o comércio de rua, creches e algumas aulas no Secundário, já na segunda-feira.
Os dados, todavia, ainda não refletem a primeira fase da abertura, no dia 4. É que, salientou Marcelo Rebelo de Sousa, é preciso esperar 14 dias para saber que impacto teve o início do desconfinamento no número de infeções e internamentos. Até agora, contudo, o comportamento dos portugueses "tem sido exemplar", disse.
Rio teme segunda vaga
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Entretanto, o primeiro-ministro recebeuna quinta-feira, em São Bento, os partidos com assento parlamentar, com os quais debateu a resposta a dar à pandemia. À saída, Rui Rio, líder do PSD, defendeu que o país não tem capacidade económica para voltar a "fechar tudo" em caso de segunda vaga, acrescentando que o mês de junho servirá para preparar a "capacidade de resposta" ao possível fortalecimento do surto no inverno.
Catarina Martins, líder do BE, aludiu ao apoio às famílias com filhos em creches - que vai estender-se até 1 de junho - para dizer que seria "importante" que a ajuda se prolongasse; Jerónimo de Sousa, do PCP, focou-se na questão das praias, pedindo "sensatez" ao Governo para que estas não se tornem "zonas de conflitualidade".
Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, disse ser "insultuoso" que o tema do momento seja o futuro de Mário Centeno e não a pandemia; já André Silva, do PAN, referiu que essa crise foi "alimentada" por Marcelo Rebelo de Sousa.
André Ventura, do Chega, questionou "qual é o estatuto" do ministro das Finanças nesta altura, considerando que tem "muito poucas condições para continuar do cargo". Já o presidente e deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, recomendou "distanciamento político entre órgãos de soberania" nestes tempos de "distanciamento social", e frisou que o seu partido recusa alimentar "este tipo de Triângulo das Bermudas entre Belém, São Bento e Terreiro do Paço que faz com que todas as outras notícias e assuntos sejam engolidos".
O PS, pela voz do seu secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, recusou falar sobre as eleições presidenciais de 2021, remetendo esse assunto para "tempo oportuno" e considerando que há que respeitar "o espaço de expressão" do atual presidente da República.