Médica cubana chegou há oito anos e já trabalhou na restauração e fez limpezas
Entrou como refugiada e ainda não conseguiu exercer. Sente-se "perdida" no sistema e pondera mudar de país.
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A., médica cubana que contou a sua história ao JN sob anonimato, chegou a Portugal há oito anos e está longe de ter o processo de equivalência concluído. Num desabafo, deixa escapar que se sente "completamente perdida" no sistema e, "caso Portugal continue a dificultar o processo para exercer", vê a saída para outros países como "o plano B, a alternativa" para voltar à medicina.
Nos últimos anos, tem trabalhado "na restauração, como auxiliar de saúde, auxiliar de limpeza, secretária administrativa, tudo menos medicina". Tem "muitas colegas", estrangeiras formadas em medicina, que "trabalham em fábricas" ou noutros empregos não qualificados.
A médica, de 38 anos, que casou com um português, conta que deu entrada em Portugal com "estatuto de refugiada", deixando para trás um regime político com o qual não concorda. Desde então, não voltou a exercer. Em Cuba, há "regulações" dos médicos, o que "dificulta a obtenção de todos os documentos necessários para o exercício da profissão noutros países". Por isso, só em 2021, se conseguiu apresentar à prova de competências em comunicação básica de português.
É a primeira de um processo longo, e não passou. Era "muito complexa" e de um nível "mais exigente" do que o que estaria previsto no regulamento, afiança, adiantando que reclamou sem sucesso. O Conselho de Escolas Médicas Portuguesas assegura que a prova "foi realizada em estrito cumprimento e rigor" do regulamento. Em novembro, conta repetir a prova, mas ainda não sabe como vai estudar. Para a primeira tentativa, preparou-se "por conta própria. As economias não davam para pagar uma escola e não havia nenhum curso do Governo para preparar médicos estrangeiros".
A médica garante que nada tem contra a integração dos ucranianos, porém não percebe "por que se alteraram os protocolos" só para aqueles profissionais e não há "acompanhamento" similar para os outros médicos estrangeiros.