O tempo de espera entre a primeira consulta e o início dos tratamentos de cancro da mama é um dos problemas que mais preocupa os profissionais de saúde que lidam com aquela patologia. A Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) defende que alguns destes exames podem ser requisitados pelos centros de saúde, em articulação com o hospital, e realizados no privado. O objetivo é que a doente chegue à primeira consulta hospitalar já com informação para o diagnóstico e possa iniciar o tratamento mais rapidamente.
Corpo do artigo
O estudo "Visão integrada do cancro da mama em Portugal", realizado pela Universidade Católica e divulgado esta semana, indica que o tempo médio de espera entre a primeira consulta e o início do tratamento oncológico da mama é de 58 dias, chegando em alguns casos a 180 dias. Este sábado assinala-se o Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama.
Do privado para o SNS
"O problema não está no tempo de espera para a primeira consulta hospitalar. Temos de perceber o que se passa entre esta e o início do tratamento. Se são os exames que demoram, então devemos organizar o sistema para o tornar mais eficiente, trabalhando em rede e possibilitando que o doente os realize fora do hospital, no privado, e os leve em mão para a primeira consulta", defende, em declarações ao JN, Miguel Abreu, presidente da SPO.
Para tal acontecer, é "fundamental" que os hospitais tenham uma comunicação próxima com os cuidados primários, refere. Miguel Abreu dá o exemplo da cintigrafia óssea, exame usado no estadiamento do cancro que os centros de saúde não podem requisitar.
O estudo da Católica, coordenado pelo oncologista Luís Costa, alerta que o insuficiente número de profissionais de saúde e a falta de recursos técnicos para meios complementares de diagnóstico podem comprometer a rapidez do diagnóstico e estadiamento da doença e consequentemente atrasar o início do tratamento e prejudicar a qualidade dos cuidados.
Preparar para mais casos
O que ainda não se consegue medir é o real impacto da pandemia nos diagnósticos de cancro da mama, seja pela suspensão temporária dos rastreios de base populacional seja pela falta de resposta dos cuidados primários que canalizaram esforços para o combate à pandemia. "Precisamos de aguardar mais tempo", diz Miguel Abreu, alertando para a necessidade de o SNS se preparar. "Devemos reestruturar os serviços de saúde para responder às listas de espera que têm e para os capacitar para um possível aumento do número de casos", conclui.
Resposta em 15 dias
No IPO do Porto, 79% das mamografias e 80% das ecografias mamárias são realizadas até 15 dias. Já na ressonância magnética, só 56% dos pedidos têm resposta em 15 dias. O IPO do Porto é o único dos IPO a disponibilizar informação sobre espera para exames.
O tempo médio de espera para cirurgia da mama no IPO do Porto é de 21 dias. No IPO de Coimbra é de 19 dias para prioritários e 29 dias para casos normais.