O Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) está a pedir a médicos, enfermeiros e outros profissionais que abdiquem de tirar férias até setembro para dar resposta ao aumento da procura de todos os serviços, em especial das urgências.
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Numa circular interna, com data do passado dia 8, a administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) compromete-se a pagar "pelos prejuízos sofridos" uma indemnização que triplica a remuneração correspondente ao período que for adiado. E permite que as férias sejam remarcadas até 30 de abril do próximo ano.
A majoração em 50% do valor da hora extra aos médicos da casa que fazem urgências e o aumento do preço/hora a pagar aos prestadores de serviços são outras medidas em vigor para evitar a rutura dos serviços. Ainda assim, as respostas estão no limite e os constrangimentos são constantes.
As situações mais críticas têm ocorrido no Hospital de Portimão, mas sobrecarregam a unidade de Faro, também a braços com falta de médicos e o aumento da procura expectável nesta altura do ano. Desde as 9 horas de ontem até às 9 horas de segunda-feira, a maternidade e o bloco de partos de Portimão estão encerrados e todas as grávidas com mais de 22 semanas de gestação que entrem em trabalho de parto, necessitem de indução ou de cesarianas serão transferidas para Faro.
Portimão sem pediatras
A urgência pediátrica também está limitada no fim de semana. Até às 9 horas de segunda-feira, o atendimento das crianças e jovens em Portimão será feito por médicos não especialistas. Só a urgência pediátrica do Hospital de Faro tem especialistas de pediatria.
Enquanto o SNS falha nas respostas, cresce a atividade assistencial no setor privado. "Os hospitais privados, cada vez mais procurados, é que vão dando resposta, mas não é para todos", nota o presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau.
O JN contactou o CHUA para perceber quantos médicos abdicaram das férias já marcadas na sequência da circular, mas não obteve resposta em tempo útil.
João Silva Dias, secretário regional do Sindicato Independente dos Médicos e diretor do Serviço de Ginecologia do Hospital de Faro, duvida que a medida tenha adesão. "As pessoas estiveram fechadas, sem descanso durante muito tempo e agora privarem-se das férias já marcadas com as famílias, por mais uns trocos, duvido", referiu ao JN. Sem pôr em causa a necessidade de se tomarem decisões, o médico lamenta que se continuem a usar "pensos rápidos" para resolver problemas, como a falta de atratividade do SNS, que exigem medidas de fundo.
Em agosto do ano passado, o CHUA avançou com uma medida idêntica que, apesar de não ferir a legalidade, causou algum mal-estar entre os sindicatos.
"rotundo falhanço"
Este ano, a medida surge um pouco mais cedo, mas também em cima das férias. Noutros anos, a região tentou mobilizar médicos de outras zonas do país para trabalharem no Algarve no período de verão, mas "a experiência demonstrou que não funciona", referiu ao JN a ARS do Algarve. Foram um "rotundo falhanço", enfatiza Cristóvão Norte, líder da distrital PSD de Faro. A ARS diz que agora a estratégia "tem passado prioritariamente" por tentar reforçar os recursos humanos de uma forma permanente.
Mais sete ambulâncias e uma VMER
A emergência pré-hospitalar do Algarve foi reforçada com sete meios, nomeadamente ambulâncias PEM (postos de emergência médica) localizadas nos bombeiros de Lagos e Silves (Alcantarilha), na Cruz Vermelha de Portimão, na de Faro (em Loulé e Boliqueime), na de Olhão e na de Silves (Ferreiras). Há ainda uma VMER adicional que é operada pelo INEM em Faro, sempre que se revelar necessário.
População duplica
O Centro Hospitalar do Algarve serve cerca de 450 mil habitantes durante a maior parte do ano, mas no verão a população mais do que duplica, aumentando também a procura dos serviços de urgência.
Monitorizar litoral
A ARS do Algarve, em articulação com os três agrupamentos de centros de saúde, monitoriza a procura das unidades do litoral, onde se concentra "a pressão turística" para, se necessário, "reforçar a resposta, nomeadamente, nas consultas de recurso que já existem" e onde residentes e visitantes podem recorrer em caso de doença aguda ou para renovação de receitas.