As ordens dos médicos e dos enfermeiros exigem a suspensão de toda a atividade não urgente em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde.
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Só assim será possível estar um passo à frente da epidemia Covid-19, garantem. As equipas dos hospitais mais pressionados já estão a dar sinais de cansaço e é urgente reforçá-las, até porque já há pelo menos duas centenas de médicos e enfermeiros em isolamento.
As decisões têm vindo a ser tomadas por alguns hospitais, mas a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Enfermeiros defendem uma recomendação central.
Depois de um alerta da Ordem dos Médicos, o Hospital de S. João foi o primeiro a tomar a decisão de suspender, até ao final do mês, toda a atividade programada, incluindo cirurgias, consultas, exames e tratamentos, que não ponha em risco a vida ou provoque grave prejuízo de saúde ao doente.
Ontem, o Hospital da Guarda seguiu os mesmos passos. "As cirurgias não urgentes vão ser canceladas bem como as consultas, com exceção das dos doentes oncológicos ou prioritários referenciados pelos médicos assistentes", referiu ao JN um pneumologista da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda. Além disso, as consultas vão ser espaçadas para não acumular pessoas nas salas de espera.
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O Centro Hospitalar do Baixo Vouga, que ontem montou um hospital de campanha para doentes Covid-19 (tal como o Hospital de Viana do Castelo), também suspendeu a atividade cirúrgica programada e adicional, em Aveiro, e cancelou a atividade de ambulatório em Águeda. E o Hospital de Santo António (Porto) admitiu, ontem à noite, que "as intervenções cirúrgicas que não coloquem em risco a segurança ou prognóstico" sejam adiadas.
Vários turnos seguidos
A suspensão da atividade programada permite aos profissionais focarem-se nos doentes urgentes, que continuam a chegar todos os dias, e nos infetados com o novo coronavírus. Ajuda também a libertar camas de cuidados intensivos e intermédios, o que pode ser essencial nos próximos dias.
O cansaço dos profissionais de saúde também preocupa as ordens. "Já temos equipas de infecciologia a fazerem voluntariamente vários turnos seguidos e médicos a fazerem urgências dia sim, dia não, o que aumenta o risco de erro", avisa o bastonário Miguel Guimarães.
O vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros, Luís Barreira, pediu à ministra da Saúde o recrutamento urgente de enfermeiros e, face à anuência da tutela, pede aos conselhos de administração das unidades de saúde que identifiquem as necessidades e façam os pedidos com urgência.
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É que além de já serem poucos para as necessidades e de estarem cansados, já há "mais de uma centena de enfermeiros em isolamento preventivo", disse Luís Barreira. E o número vai aumentar nos próximos dias. O coordenador do gabinete estratégico da Ordem dos Enfermeiros para o Covid-19 garante não ter, até à data, "informação de enfermeiros infetados".
Também o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos estima em pelo menos uma centena os médicos em isolamento social. O próprio Jorge Roque da Cunha encontra-se nessa situação após ter sido detetado um caso positivo na unidade de saúde onde trabalha.
Sem proteção, é parar
A escassez dos equipamentos de proteção individual é outro tema a gerar inquietação. "Há falta de equipamentos a nível nacional, sobretudo nos centros de saúde", afirmou Luís Barreira, realçando que Marta Temido reconheceu as carências e assegurou que no início da próxima semana deverá chegar mais material.
"Não é possível os profissionais continuarem a trabalhar sem as proteções adequadas. Se começam a ficar doentes, isto é gravíssimo", alerta Miguel Guimarães. A Federação Nacional dos Médicos aconselha os médicos a exigir as proteções recomendadas e caso não estejam disponíveis, a interromper a atividade e reportar a falha.