Secretário de Estado disse que não sugeriu chamar as "secretas". PSD, Chega e IL pedem a demissão do ministro João Galamba.
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O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes, já não fugiu, ao contrário do que sucedeu nas últimas semanas, à pergunta sobre se foi ele que sugeriu a João Galamba chamar os Serviços de Informações e Segurança (SIS). Mendonça Mendes disse explicitamente que não sugeriu a intervenção do SIS na noite dos desacatos no Ministério das Infraestruturas, confirmando apenas que João Galamba lhe telefonou na noite dos desacatos. No fim, o PSD acusou Galamba de ser "mentiroso" e pediu, juntamente com o Chega e a IL, a demissão do ministro.
Primeiro, Mendonça Mendes confirmou o telefonema de João Galamba na noite de 26 de abril: "O ministro estava muito preocupado com a informação classificada que estava no computador e com as entidades a quem tal facto deveria ser reportado".
Depois, lançou uma frase que promete fazer correr tinta nos próximos dias: "O reporte ao Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) não decorreu nem de nenhuma sugestão, orientação ou indicação da minha parte, nem da parte de nenhum membro do Governo". Alguns partidos interpretaram que Mendonça Mendes não fez, afinal, qualquer sugestão para chamar o SIS, o que contraria a versão de João Galamba.
A aparente contradição levou vários deputados a fazerem mira a Galamba, com PSD, Chega e IL a reforçarem os pedidos de demissão do ministro das Infraestruturas. "João Galamba é mentiroso", disse, no final, o vice-presidente do PSD, Hugo Soares. "Este Governo parece que está a jogar ao jogo do mentiroso", reforçou Pedro Pinto, do Chega.
Porém, Mendonça Mendes não negou que o tenha sugerido; apenas revelou que a chamada para o SIS não foi feita na sequência da orientação de qualquer membro do Governo. E já se sabia que quem chamou o SIS foi Eugénia Correia, chefe de gabinete de Galamba, "sem nenhuma orientação do ministro", reforçou ontem Mendonça Mendes.
"Reporte não é um pedido"
Recorde-se que João Galamba revelou, na Comissão de Inquérito à TAP e em conferência de imprensa, que falou com Mendonça Mendes naquela noite e que o secretário de Estado lhe sugeriu que contactasse o SIRP, que tutela o SIS. No entanto, segundo Galamba, quando naquela noite foi dar indicações à sua chefe de gabinete para contactar o SIRP, já Eugénia Correia o tinha feito por livre iniciativa.
Catarina Martins, do BE, não deixou passar a "finta" do secretário de Estado: "O que eu percebo é que o ministro João Galamba ligou-lhe e o senhor secretário de Estado disse "é melhor informar o SIS". Felizmente a chefe de gabinete já tinha chamado o SIS e, portanto, agora estão safos. A chefe de gabinete atuou sem que o ministro ou o secretário de Estado tivessem tido intervenção". Mendonça Mendes esquivou-se várias vezes a responder àquela pergunta. Pelo meio, admitiu que "um reporte não é um pedido para agir" e esclareceu que, na noite dos acontecimentos, não falou com António Costa: "Quem informou o senhor primeiro-ministro foi o ministro das Infraestruturas".
A catadupa de reações à frase de Mendonça Mendes não se fez esperar e recaiu sobre Galamba. Além das acusações de "mentiroso" e dos pedidos de demissão, o BE anunciou que vai fazer queixa à Procuradoria-Geral da República para "validar qual o quadro legal em que o SIS agiu", anunciou Pedro Filipe Soares, líder parlamentar.
Do lado do PS, Eurico Brilhante Dias sublinhou que o SIS foi chamado por "protocolo" e não por "ordem" governamental. O socialista reagiu, também, às acusações de que Galamba mentiu: "Inferir que mentiu parece-me uma precipitação".