Menina de sete anos e rapaz de dez entre as vítimas de abusos sexuais na Igreja
Uma menina com sete e um rapaz com dez anos fazem parte da lista de testemunhos de abusos validados pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica. Quando a denúncia foi feita, em 2022, a menina tinha seis anos e o inquérito da comissão, de acordo com o que está escrito no relatório, foi "preenchido por um familiar". O relatório da comissão identifica ainda que foram recebidas 21 denúncias de crimes ainda em curso.
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Uma menina de 12, três rapazes e uma rapariga de 14 anos e outra de 15 constam da lista entregue aos bispos portugueses. Não é possível saber exatamente em que idade cada vítima sofreu abusos, mas a maioria (15%) foi abusada aos 12 anos.
Entre os 512 testemunhos que remetem para a existência de 4 815 vítimas, a comissão presidida por Pedro Strecht recebeu 27 denúncias de jovens nascidos já no século XXI. "Assinale-se ainda que em 21 casos foi indicada a idade atual, com o claro significado de que os abusos ainda estão a acontecer no presente", refere o relatório.
Para além dos jovens já citados, há ainda denúncias feitas por um rapaz de 16 anos, dois de 17, três de 18, três raparigas e um rapaz de 19 anos, três rapazes de 20, um rapaz e uma rapariga de 21, um rapaz e uma rapariga de 22 e duas raparigas de 23 anos.
Tendo em conta a idade das vítimas e a data em que foram feitas as denúncias, a comissão acredita que os abusos "ainda estão a acontecer" e Pedro Strecht defende que "o afastamento real, pelo menos de espaços físicos ou de relação onde haja crianças e adolescentes, será algo fundamental a ter em conta". "Por alto", o responsável pela comissão independente refere que estão ativos na Igreja cerca de 100 sacerdotes acusados de abusos e identificados pelas vítimas, cujos nomes serão enviados à Igreja e ao Ministério Público.
D. José Ornelas, presidente da CEP, remete para depois do dia 3 de março a decisão do que será feito com estes sacerdotes. Contudo, referiu que "os abusadores de menores não podem ter cargos dentro do ministério". "Desde que seja provado, não têm lugar", sublinhou. A prova terá de ser feita nos tribunais comuns ou pelos órgãos competentes da Santa Sé, frisou.
O silêncio da Igreja sobre este assunto foi quebrado esta quarta-feira por D. António Augusto Azevedo, bispo de Vila Real. O prelado manifestou o seu "pedido de perdão às vítimas" e a "necessidade de a Igreja procurar acompanhar a todos os que foram feridos por esta indignidade".