Há 638 mil elegíveis no grupo dos 5-11 anos, mas cerca de 300 mil já terão contactado com o vírus. Imunização prevenirá 13 520 infeções e 52 internamentos em quatro meses.
Corpo do artigo
Das cerca de 638 mil crianças elegíveis para vacinar entre os 5 e os 11 anos, quase metade já poderão ter tido covid-19. Ainda assim, perante os benefícios "individuais e de saúde pública"apurados pela Comissão Técnica de Vacinação para a Covid-19 (CTVC), a recomendação da Direção-Geral de Saúde é vacinar todas as crianças. Os detalhes da operação serão desvendados amanhã, mas, a medir pelas palavras do primeiro-ministro, "é provável" que se comece pelos de 11 anos e depois se desça progressivamente até aos cinco.
"Neste momento temos uma média de 450 casos por dia neste grupo etário, só aconteceu em janeiro, e as pessoas devem preocupar-se com isto", refere Manuel Carmo Gomes, da CTVC. O especialista nota que embora haja 69 763 casos notificados até 5 de dezembro no grupo 5-11 anos, este número "é apenas a ponta do icebergue", porque há milhares de crianças que não têm sintomas e não são detetadas. "Na melhor das hipóteses, há 300 mil que já tiveram a infeção", afirma, com base em cálculos que partem dos inquéritos serológicos à população.
E vale a pena vacinar todas as crianças, se metade já tiveram a doença? Manuel Carmo Gomes reconhece que não é possível testar todas e nem seria importante, uma vez que não há registo de problemas em vacinar quem já foi infetado -"acontece também nos adultos e nos adolescentes e é o que se faz nos Estados Unidos". E até tem a vantagem de aumentar os anticorpos para futuros encontros com o vírus. Entre os benefícios individuais da vacinação, há alguns que são quantificáveis pela comissão técnica de vacinação.
Acabar com os isolamentos
Estimando uma cobertura vacinal de 85% das crianças daquele grupo, conseguem evitar-se nos próximos quatro meses 13 520 infeções e 52 internamentos hospitalares, salienta Manuel Carmo Gomes, membro da CTVC.
Na perspetiva de saúde pública, "mais difícil de contabilizar", há ganhos no contexto escolar e social. Desde logo, o fim do isolamento de turmas inteiras por causa de um contacto de risco, como já asseguraram que deverá acontecer os responsáveis da CTVC, Carmo Gomes e Walter Fonseca. No programa "Casa Feliz" da SIC, António Costa também sublinhou o peso para a sociedade das infeções dos mais novos. "Uma criança infetada tem um efeito muito nocivo para o conjunto da sociedade, porque implica uma interrupção do seu processo de aprendizagem, isolamento de toda a turma, até às vezes o isolamento da própria escola, quando são pequenas ou têm irmãos em várias salas", disse o primeiro-ministro.
Um argumento que não convence os pediatras que não recomendam a vacinação deste grupo, como a presidente da Sociedade de Cuidados Intensivos Pediátricos. Cristina Camilo lamenta que se estejam a "castigar" as crianças com isolamentos de 14 dias por terem tido um contacto de risco com um professor com máscara. Entende que é esta decisão que está errada e deve ser corrigida.
PSD e IL querem ver pareceres
O PSD e a Iniciativa Liberal vão exigir a divulgação dos pareceres científicos sobre a vacinação de crianças entre os 5 e 11 anos contra a covid-19.
"Façam autotestes"
O primeiro-ministro apelou a que as famílias "façam pelo menos um autoteste" antes de se juntarem para as festividades do Natal. Apesar do elevado nível de vacinação, lembra que "cada vez há mais pessoas que, estando infetadas, não têm qualquer sintoma e estão à vontade, correndo o risco de contaminar os seus familiares".