Milhares de pessoas estiveram, este sábado, a manifestar-se no centro de Lisboa para exigir paz no Médio Oriente e uma Palestina independente. "Paz sim, guerra não" ou "é possível e urgente a paz no Médio Oriente" foram algumas das palavras de ordem ouvidas.
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A manifestação começou cerca das 15.30 horas no largo do Martim Moniz em direção ao Largo do Município, na baixa de Lisboa.
Os líderes do BE e do PCP acusaram o Governo de ser cúmplice de Israel e desafiaram-no a agir para "parar o massacre" em curso no Médio Oriente, desde logo impedindo a entrega de armas a Telavive.
Em declarações aos jornalistas durante a manifestação, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, salientou que "Israel está a pegar fogo ao Médio Oriente, está a violar o direito internacional, está a ocupar territórios e a proceder a uma limpeza étnica em Gaza, na Palestina, de forma ilegal, está a invadir o Líbano, está a matar centenas de civis todos os dias".
"E o Ocidente está a assobiar para o lado, como se nada acontecesse, como se não houvesse direito internacional. Onde é que nós vamos parar, em que é que nos estamos a transformar? Num conjunto de nações que põe o direito internacional debaixo do tapete?", questionou.
Por sua vez, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, também presente na manifestação, defendeu que é preciso exigir o "fim do massacre, desta agressão sem limites que está a ocorrer com o povo da Palestina, com o povo libanês, às mãos de Israel e tendo como cúmplice a hipocrisia dos Estados Unidos, da União Europeia (UE) e do Governo português".
Paulo Raimundo salientou que há um ano que se está a acompanhar um massacre que fez "milhares de crianças e de homens mortos" e advertiu que o conflito está agora a assumir umas proporções em toda a região do Médio Oriente "que não se imagina o que é que pode vir a acontecer".
"Parem de armar esse Estado terrorista"
Depois da marcha os manifestantes concentraram-se no Largo do Município para os discursos finais, uma ação que culminou 10 dias de manifestações em vários locais do país contra a guerra no Médio Oriente e contra o que os organizadores chamam de "genocídio do povo palestiniano" por parte de Israel.
Foi isso também que considerou o professor universitário Alan Stoleroff, um judeu norte-americano que vive em Portugal, que no dia mais sagrado do judaísmo, o Yom Kipur, optou por marchar em Lisboa contra Israel e a favor de uma Palestina independente e em paz.
"Sempre houve uma oposição significativa dos judeus ao projeto sionista de ocupação", afirmou o professor num discurso extremamente crítico de Israel, que chamou de Estado terrorista. "Parem de armar esse Estado terrorista, é a única maneira de impedir a guerra e o genocídio", apelou.
Alan Stoleroff assegurou que são muitos os judeus contra "a violência e o genocídio imposto por Israel em Gaza", que são cada vez mais os que rejeitam a "política destrutiva" feita em seu nome por Jerusalém, e disse que os judeus estão ao lado "dos irmãos palestinianos".
"O Estado de Israel não nos representa enquanto judeus", a guerra é feita por "fanáticos de extrema-direita" que "mancham o nosso bom nome", disse, apelando à retirada das forças armadas israelitas de Gaza e ao fim da violência.
O mesmo apelo já tinha sido deixado por Tiago Oliveira, secretário-geral da central sindical CGTP, uma das entidades organizadoras da marcha. Aos manifestantes reunidos em frente da Câmara Municipal de Lisboa falou dos "milhares de mortos", de uma "Gaza arrasada" e disse que "um cessar fogo imediato é necessário".
E Israel, avisou, está agora a fazer no sul do Líbano o que já fez em Gaza, destruindo e matando, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia e dos aliados da NATO.
Uma acusação igual à de Inês Reis, do Projeto Ruído, também organizador, que lembrou um ano de "destruição e medo" que se saldou em 42 mil mortos, dos quais 16 mil crianças.
Um ano de "horrores" que Noor Tibi, uma jovem palestiniana a viver em Portugal, disse que nem era preciso descrever porque os próprios soldados israelitas exibem os "seus crimes" nas redes sociais. "Mas sinto que os ventos de mudança estão a chegar", avisou.
Ilda Figueiredo, do Conselho Português para a Paz e Cooperação, concordou. "Cresce a condenação da barbárie israelita e com ela a exigência de paz", assegurou, afirmando que o que é preciso é uma Palestina livre e paz no Médio Oriente.
"Israel não pode continuar a atuar impunemente. Por isso estamos aqui a dizer que não queremos que o genocídio continue", disse Ilda Figueiredo.
E Carlos Almeida, do Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente (MPPM): "Israel tem no seu código genético o fim da Palestina".
Num discurso com cada vez menos presentes à medida que as intervenções se sucediam, o responsável, também na organização da manifestação, acusou as potencias ocidentais de "participarem ativamente no crime" perpetrado por Israel, e lamentou que esteja "instalada a banalidade do mal".
Terminou assim a iniciativa, com os responsáveis a anunciarem já um concerto pela paz e de solidariedade com a Palestina no dia 26 em Lisboa.